Um EP homónimo, em 2010, e "An Omen EP_", em 2012, abriram caminho para "Welcome Oblivion", o aguardado primeiro álbum dos How to Destroy Angels. A banda que manteve Trent Reznor ocupado durante o hiato de quatro anos dos Nine Inch Nails (estes com regresso aos palcos confirmado para o verão) voltou a juntá-lo a Atticus Ross, colaborador habitual, e conta ainda com o artista visual Rob Sheridan e Mariqueen Maandig, a atual sra. Reznor cuja voz se tornou (pouco) conhecida com os West Indian Girl, em inícios do milénio.

Tanto ou mais do que as canções que o antecederam (algumas repescadas), "Welcome Oblivion" não engana e deixa bem evidente as suas origens, não só pela assinatura sonora de Reznor e, claro, a ligação com o universo dos Nine Inch Nails, mas também pela aproximação, talvez ainda maior, ao que ouvimos nas bandas sonoras de "The Social Network" (2010) e "The Girl With the Dragon Tattoo" (2011), as bem sucedidas colaborações com Ross. Não seria difícil imaginarmos alguns momentos do disco no próximo filme de David Fincher (sobretudo os instrumentais da reta final) como não é difícil imaginarmos uma outra narrativa para as sugestões de um mundo desolado que o alinhamento vai deixando.

Videoclip de "Keep It Together":

É com essas bandas sonoras que "Welcome Oblivion" partilha o tom contemplativo, só a espaços interrompido (sem grande espalhafato), que marca uma hora de eletrónica atmosférica e pós-industrial, com texturas que vão do glitch ao drone ou até a heranças de algum trip-hop (a viagem entre serenidade e claustrofobia chega a lembrar os cenários dos primeiros álbuns de Tricky).

O resultado, sem gerar o efeito surpresa de muitos discos dos Nine Inch Nails nem da música de "The Social Network", intriga o suficiente para justificar a estreia dos How to Destroy Angels no formato longa-duração. A amálgama entre o humano e o maquinal, um dos elementos centrais do grupo, tem aqui espaço para mais variações do que nos EPs e a produção, nunca abaixo do irrepreensível, assegura que a sonoplastia compense momentos menos inspirados na composição.

O jogo denso, intrincado e por vezes circular de camadas é quase sempre acompanhado pela voz de Mariqueen Maandig, cuja fragilidade e doçura a tornam, à partida, num elemento pouco condizente com a realidade distópica de "Welcome Oblivion". Em vez da mulher de Reznor, os How to Destroy Angels talvez saíssem a ganhar com a de Ross, Claudia Sarne, cuja voz expressiva e arrepiante era um dos grandes trunfos dos saudosos 12 Rounds (recrutados para a Nothing Records, de Reznor, nos anos 1990).

Videoclip de "Ice Age":

Maandig fica a milhas desse carisma, mas também não se sai mal, sobretudo quando tem a voz do marido a sublinhar a sua. Os melhores episódios do disco surgem, aliás, quando as vozes do casal se complementam. "Too Late, All Gone" é um exemplo perfeito, com um crescendo assente na repetição de um refrão-mantra ("The more we change/ Everything stays the same") que resulta num clímax estratosférico e viciante - e num dos momentos mais expansivos do álbum. Quase tão boa, "Strings and Attractors" intercala eletrónica ríspida com um refrão acolhedor, também aqui a funcionar como pico emocional e a pedir audições em loop.

Embora o brilho de momentos como estes seja a exceção e não a regra, Maandig consegue dar conta do recado sozinha. "Ice Age", a canção mais acústica e despida de "Welcome Oblivion", é também o maior desafio e a vocalista sabe superá-lo ao expressar inquietação, ou até raiva, de forma bem diferente do marido - como quando canta um verso tipicamente NIN, "Sometimes the hate in me is keeping me alive", sem ponta de revolta na voz.

Mais estranho, o single "How Long?" vale pela diferença mas destoa ao soar a uma eventual versão (muito livre) do hit homónimo dos Ace, canção duvidosa da década de 1970, feita por uns Morcheeba em piloto automático. Umas faixas antes, a abrir o disco, o aperitivo "The Wake-up" mostra que Maandig e os How to Destroy Angels também podem ser agressivos e ruidosos, só não parecem estar muito interessados nisso. Por agora, tudo bem, até porque o formato mais meditativo é uma boa pista e quem quiser mesmo uma descarga de fúria (em modo abrasivo) já não tem de esperar muito pelos Nine Inch Nails...

@Gonçalo Sá