O grupo juntou-se quase por acaso há cerca de quatro anos: "Adquirimos um equipamento numa venda judicial. Decidimos dar-lhe uso e começámos a brincar", contou à agência Lusa Mapril Bernardes, presidente da delegação de Leiria da Ordem dos Advogados.

Um dia, estavam os três advogados a almoçar e viram Rui Martins, oficial de Justiça no Tribunal de Leiria, a passar com uma guitarra às costas.

"Perguntámos-lhe se tocava e desafiámo-lo a aparecer nos nossos ensaios", adiantou Mapril Bernardes. O mesmo sucedeu com o procurador da República, Carlos Andrade Batista, o homem da bateria.

O nome do grupo foi dado por Rui Martins: "Citius era o instrumento de trabalho de todos", recorda. Mapril Bernardes considera que o "verdadeiro nome deveria ser os Paralelos do Ritmo, porque por mais que toquem nunca se encontram".

Quatro são do Benfica e um do FC Porto. No dia do ensaio, o Benfica tinha perdido com o Zenit e Rui Martins, adepto portista, não se cansou de tocar a famosa kalinka: "É este o espírito", desabafa Mapril Bernandes.

"É um momento de puro divertimento, serve para aliviar o stress e esquecer os problemas que há em outros 'citius'", brincou, ao mesmo tempo que garantiu que o trabalho fica na rua.
"Trabalho é trabalho. Conhaque e conhaque. Fora daqui, cada um desempenha a sua função o melhor que pode e sabe. Litigamos entre nós, litigamos com o senhor procurador quando acontece e chateamos o Rui", afirma Mapril Bernardes.

A paixão pela música acompanha Carlos Andrade Batista desde novo: "Na faculdade de Direito de Coimbra, o fado sempre foi a tradição. Mas, a mim, o fado nunca me disse nada. Sou mais amante da música rock e mais moderna", por isso, 'agarrou-se' à bateria.

Em tribunal, Carlos Andrade Batista acusa os arguidos. Mapril Bernardes, Helder Gonçalves e Belmiro Fontes defendem-nos. Rui Martins assiste-os. "Sabemos as diferenças e deixamos tudo nos tribunais. Quando estamos aqui é para aliviar da pressão dos processos", adiantou o procurador da República, sublinhando que é a música que os une. As batinas ficam na rua. "Não há doutores nem engenheiros", garantem.

E será mais fácil tocar ou descobrir a verdade num julgamento? "É diferente. Tenho prazer em estar num julgamento, que foi a profissão que escolhi. Tocar bateria também me dá prazer. A responsabilidade na música é menor, até porque quando nos enganamos ninguém nota."

E qual a música que melhor descreve o estado da justiça? "Frágil", responde de imediato Belmiro Fontes. O advogado explicou: "será só a plataforma informática citius, porque tudo o resto está forte". "Agora, é só publicidade gratuita na televisão", brinca Belmiro Fontes, relacionando o Citius com a banda.

Helder Gonçalves diz que o "espaço de convívio" do Citius do Costume "prova que as pessoas na justiça se podem entender". "Estamos no bom caminho", disse.

Há solução para a justiça portuguesa? "Naturalmente que sim. Desde que haja vontade para melhorar e há sempre o que melhorar", assume Helder Gonçalves.

O Citius do Costume "nunca cobra ‘cachet’" e toca “covers” habitualmente em eventos de associações locais e de solidariedade.

Na sexta-feira, vão tocar nas festas da Gândara dos Olivais, uma localidade na freguesia de Marrazes, em Leiria.

@Lusa