Não se deixem enganar pelo tamanho: no mundo da máfia, estes "peixes" são miúdos que possuem o mesmo apetite voraz de poder que os seus coexistentes “tubarões”.

As “piranhas”, como são descritas no homónimo livro de Roberto Saviani (autor de "Gomorra"), não são mais do que adolescentes que “descobrem” uma maneira de ganhar dinheiro fácil: trabalhando para a Camorra (a máfia napolitana). E para além dos crimes que executam, é nesta nova e verde quadrilha que se revela uma anarquia insurgente à própria instituição do crime organizado.

Tendo abordado, anteriormente, um centro de detenção juvenil com o seu “Fiore”, o realizador Claudio Giovannesi aventura-se em mais uma instância na ilicitude precoce, contando a descrição detalhada do imaginário de Saviani, o qual havia conhecido e trabalhado durante a série “Gomorra”.

Tal como a série partia do homónimo livro e posteriormente um filme que revelou Matteo Garrone como uma espécie de “São Sebastião” de um cada vez mais decadente cinema italiano, “Piranhas” é novamente um elaborado e cru conto criminal que se foca num senso de realismo formal e um pessimismo envolvente em todo o seu cenário.

Giovannesi atribui a sua marca, potencialmente a crença em futuros luminosos mesmo em becos obscuros e sem saída, tão dignos da “inocência” dos mais imaturos, porém, conscientes do cerco que penetram deste entranhado sistema. Com isso, as relações entre estes “pequenos criminosos” tendem em balançar num vento replicado de um "O Senhor das Moscas" ou até à inconsequência de um ativismo coletivo de um “Os Selvagens da Noite”, de Walter Hill (1979).

“Piranhas” é isso mesmo, um “filme de máfia” focado e arquitetado sob a perspetiva fantasiosa dos jovens (sendo grande parte “não-atores” oriundos de Nápoles), o otimismo alicerçado à vontade de viver, nem que seja, previsivelmente, pelos comuns pecados mortais (o consumismo).

Eis uma obra ambiciosa que confirma o universo da Máfia como o frutífero pomar de um constantemente despido Cinema Italiano.

"Piranhas: Os Meninos da Camorra": nos cinemas a 13 de junho.

Crítica: Hugo Gomes

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