A caminho dos
Óscares 2021
A corrida aos Óscares deste ano inclui um filme sobre um baterista com perda auditiva nomeado para seis Óscares, um documentário que explora um acampamento hippie para jovens com deficiência e a primeira produção protagonizada por um ator surdo e cego.
É um passo para a representação de pessoas com deficiência em Hollywood, disseram à France Press os cineastas nomeados, mas um avanço que precisa de um trabalho contínuo para evitar que seja um acontecimento raro nos nossos ecrãs, como já aconteceu antes.
Até agora, os produtores de Hollywood "não fizeram um grande trabalho, mas eles sabem disso, estamos a tomar consciência", disse o ator secundário nomeado por "Som do Metal" Paul Raci, que foi criado por pais surdos.
"Sou um dos tipos que têm que estar à frente para não deixar a bola cair... mantendo-os atualizados sobre todos os artistas surdos que temos, todos os artistas com deficiência, todos os génios que estão por aí, todas as histórias não contadas", explicou.
A cautela é compreensível. Este é um caminho que Hollywood já tentou percorrer antes, mas com pouca sensatez. Em 1948, Jane Wyman ganhou um Óscar por interpretar uma mulher surda em "Belinda, a Escrava do Silêncio", para Raci um papel extremamente irritante.
O verdadeiro progresso aconteceu em 1987, quando a atriz surda Marlee Matlin ganhou o prémio da Academia por "Filhos de um Deus Menor".
Mas até há pouco tempo, esta foi uma clara exceção à regra, mesmo quando Hollywood deu passos gigantescos no conteúdo inclusivo que envolve cineastas e questões das comunidades negra e LGBTQ.
"Muitas vezes, o grupo de pessoas com deficiência é deixado para trás enquanto outros sub-representados recebem atenção", disse Doug Roland, realizador da curta-metragem nomeada "Feeling Through".
Roland, que não tem deficiência, inspirou a sua curta-metragem num encontro noturno que teve com um homem surdo e cego que precisava de ajuda para atravessar uma rua em Nova Iorque.
Para a sua obra, escolheu o ator estreante Robert Tarango, a primeira pessoa surda e cega com um papel protagonista em qualquer filme, segundo os cineastas. E a própria Matlin trabalhou como produtora executiva.
"Este debate começou realmente a mudar muito significativamente para a comunidade de pessoas com deficiência, e estamos a ouvir vozes mais fortes", disse Roland.
Contra os preconceitos
A ascensão da representação da deficiência no entretenimento esbarra em preconceitos "muito profundos e difíceis de identificar", afirma Roland.
Esta comunidade "é frequentemente vista como 'menos que' de uma forma mais severa do que outras comunidades", ou até mesmo "quase como desumana", disse à France Press.
Raci, que interpreta em "Som do Metal" um conselheiro de vícios que perdeu a audição numa idade avançada, considera que "as pessoas temem o desconhecido".
"A surdez é uma deficiência oculta, ninguém carrega uma placa que diz 'sou surdo'", acrescentou.
Outro obstáculo para os atores com deficiência é o acesso físico aos estúdios e locais de rodagem, que nem sempre são equipados ou adaptados, por exemplo, para cadeiras de rodas ou pessoas cegas.
Um quarto da população mundial tem algum tipo de deficiência.
É a "maior população minoritária do mundo", mas apesar disso ainda é muito pouco representada, inclusivamente nos Óscares de 25 de abril, disse o ator Nic Novicki, que em 2013 iniciou uma iniciativa a exigir que pelo menos um membro do elenco ou da equipa seja portador de deficiência e que agora se transformou na Easterseals Disability Film Challenge.
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