O cineasta Roman Polanski revisita o "horror" da sua infância durante o Holocausto num novo documentário que estreou este domingo (30) na sua cidade natal, a Cracóvia (Polónia).
O filme segue Polanski enquanto ele percorre a cidade com o fotógrafo Ryszard Horowits, um velho amigo sobrevivente do Holocausto, que conheceu no gueto judaico, durante a guerra.
O documentário trata da "memória, dos confrontos com o passado, a transitoriedade, o trauma, o destino", afirmou Mateusz Kudla, que dirigiu e produziu o filme conjuntamente com Anna Kokoszka-Romer.
"Através destes dois personagens que tiveram sorte, que sobreviveram, também queremos mostrar a tragédia de todos os residentes do gueto de Cracóvia que não conseguiram", disse Kudla à agência AFP.
Numa cena de "Polanski, Horowitz. Hometown", que inaugurou o Festival de Cinema de Cracóvia deste ano, Polanski lembra-se de quando viu um oficial nazi a disparar numa idosa pelas costas e o sangue a jorrar como se fosse uma fonte.
"Apavorado, corri pela porta que estava atrás de mim.... Escondi-me por trás destas escadas", conta Polanski, que tinha seis anos quando teve início a Segunda Guerra Mundial.
"Foi o meu primeiro encontro com o horror", explica a Horowitz, que o observa com atenção.
Horowitz, que foi um dos que receberam ajuda do industrial alemão Oskar Schindler, arregaça a manga da camisa noutra cena para mostrar o número tatuado no antebraço quando chegou, aos cinco anos, ao campo de extermínio de Auschwitz.
"Às vezes, fico a olhar para o vazio e penso que não pode estar certo, que se deve tratar de uma brincadeira estúpida. É possível ter estado lá e sobrevivido?", comenta Horowitz.
O filme também exibe o momento em que Polanski, visivelmente emocionado, se reúne com o neto de Stefania e Jan Buchala, o casal de camponeses católicos polacos que o esconderam dos nazis.
O filme não faz qualquer menção às acusações de agressão sexual contra Polanski, que foi declarado "persona non grata" em Hollywood e que não pode voltar aos EUA, onde há uma ordem de prisão contra ele.
"Esse não era nosso enfoque, não era a nossa intenção defender ou acusar ninguém. Este filme trata de outro capítulo da vida de Roman Polanski", explicou Kokoszka-Romer à AFP.
Os realizadores esperam que o documentário possa ser disponibilizado on-line ou em plataformas de streaming.
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