A grande aposta de animação dos estúdios Disney para este ano nasceu em tempos conturbados. A equipa de centenas de pessoas teve de fazer o filme à distância, a partir de suas casas, comunicando através de ecrãs, com miúdos e animais de estimação à mistura. Como o resto do mundo, é certo, mas numa tarefa ainda mais difícil de assegurar desta maneira.
"Raya e o Último Dragão" acompanha a jovem guerreira que dá título ao filme numa aventura com o último dragão lendário, Sisu, para salvar o reino de Kumandra e unir as suas terras. A jovem guerreira foi traída por uma amiga em criança e desde então tem problemas em confiar, à exceção de no seu fiel companheiro Tuk Tuk. As duas personagens femininas, com as vozes de Kelly Marie Tran ("Star Wars: Os Últimos Jedi", "Star Wars: A Ascensão de Skywalker") e Awkwafina ("A Despedida", "Crazy Rich Asians", "Ocean's 8") , estão no centro da história.
O filme foca-se na ideia de confiança e foi disso também que a equipa do filme precisou para o fazer nestas circunstâncias. Agora, pronto para ser lançado, e no meio de um dos momentos mais graves da pandemia, sê-lo-á num modelo misto: chegará em simultâneo a 5 de março aos cinemas e ao serviço de streaming Disney+ por um custo adicional.
Pela mesma razão que levou os realizadores, animadores e argumentistas a fazer o filme remotamente, também a sua apresentação para jornalistas de todo o mundo foi virtual (e incluiu até um pequeno workshop para aprender a desenhar a personagem Tuk Tuk). O SAPO Mag esteve na apresentação e ouviu os realizadores Don Hall e Carlos López Estrada, a produtora Osnat Shurer e os argumentistas Qui Nguyen e Adele Lim, assim como outros membros da equipa do filme sobre como foi construir todo o universo asiático de Kumandra, a nova princesa guerreira Disney e um dragão muito especial em tempos de pandemia.
"É uma história sobre confiança e sobre as pessoas se unirem para fazer o que é preciso. O género das protagonistas não é acidental, mas elas trabalham para algo muito maior. Vemos este mundo como um reflexo do mundo em que vivemos e se olharmos para as multidões ou para os vários guardas no filme, vamos ver sempre uma divisão 50-50 [entre homens e mulheres], que é semelhante ao que temos no mundo real. Estou muito orgulhosa da nossa equipa por isso", explica a produtora Osnat Shurer.
O filme passa-se no mundo imaginário de Kumandra, que está dividido em cinco partes inspiradas por dragões, com cada uma a mostrar características geográficas e arquitetónicas muito específicas. Para dar vida a este mundo de fantasia inspirado no Sudeste Asiático, a equipa de "Raya e o Último Dragão" viajou até vários sítios para recolher informação e ideias: foram até à Indonésia, à Malásia, a Singapura, ao Vietname ou ao Cambodja. Foi nesses locais que Kumandra começou a ser criada.
Em toda a linha houve um esforço para que a representatividade asiática fosse rigorosa, não só nos ambientes e universos, mas também nas vozes do elenco e na equipa que fez o filme, todos maioritariamente de ascendência asiática. Kelly Marie Tran, cuja família é especificamente Sudeste Asiático, e depois Awkwafina, Gemma Chan ou Daniel Dae Kim, entrou outros, encabeçam o elenco original.
"No Sudeste Asiático, há uma enorme tradição de líderes femininas, como militares, guerreiras ou líderes dos seus reinos. Na Malásia, temos a guerreira Tun Fatimah e temos histórias de Naga Tasik Chini, que é o dragão do lago Chini. Isso está presente em muitas culturas do Sudeste Asiático e sabíamos que era algo que iria funcionar no filme", sublinha a argumentista Adele Lim sobre as heroínas do filme.
Qui Nguyen, outro dos argumentistas de "Raya", salienta que para si era muito importante que as artes marciais no filme fossem fiéis à realidade e explica que as inspirações no geral para a escrita do argumento muito próximas: "Sem dúvida que eu e a Adele fomos buscar inspiração às nossas famílias e aos nossos pais. Para mim, especificamente, à minha mãe. Sei o que ela teve de passar quando chegou a este país [aos EUA] e que teve de ter o mesmo espírito guerreiro da Raya. Era importante para nós mostrar o verdadeiro espírito do Sudeste Asiático".
Um dos temas visuais centrais de "Raya e o Último Dragão" é a água, em tudo o que envolve a personagem do dragão Sisu mas também nos ambientes que a rodeiam, como nos diz um dos realizadores, Don Hall: "É um gigante tema visual no filme no que diz respeito à Sisu, que é um ser de água, um dragão de água baseado no Naga. Tornou-se um motivo recorrente extremamente importante".
Um dos trunfos da fita em popularidade poderá ser o dragão Sisu, com a interpretação de Awkwafina, que tanto na forma como é animado como na performance da atriz, nos leva de volta a Robin Williams e à personagem do Génio em "Aladdin". Perguntámos à equipa do filme se isso foi intencional...
"Emociona-me que a tenha comparado ao Robin. Quando nos encontrámos com a Awkwafina sabíamos que ela era uma atriz incrível e capaz de interpretações num grande espetro, mas ela encaixou no dragão que procurávamos, com uma combinação de sabedoria, emoção e humor. Ela reúne tudo isso numa espécie de poção mágica", descreve a produtora Osnat Shurer.
"É difícil imaginar outro ator a interpretar o papel de Génio no "Aladdin" original. Foi feito à medida dos talentos do Robin e acho que fizemos o mesmo com a Sisu. A Awkwafina é a Sisu e a Sisu é a Awkwafina", acrescenta o co-realizador Don Hall.
"Ela improvisou tantas cenas. Ela inventava com formas diferentes de interpretar várias piadas e dizia 'deixem-me tentar mais umas'. Isso nota-se no resultado final", lembra o outro co-realizador Carlos López Estrada.
E numa altura em que o mundo enfrenta alguns dos seus maiores desafios, os criadores de "Raya e o Último Dragão" consideram a mensagem do filme ainda mais premente. "Trabalhando para a Disney, acho que parte do que fazemos é trabalhar em magia. Acho que neste momento o mundo está muito destroçado. Este filme tem muita magia em si, mas acho que a sua maior magia está na mensagem sobre a confiança. É o ingrediente secreto que vai salvar o nosso mundo de Kumandra e acho que é uma mensagem importante para o mundo ter agora e ver", descreve o argumentista Qui Nguyen.
VEJA O TRAILER DO FILME:
"Raya e o Último Dragão" chega aos cinemas portugueses e ao Disney+ (por um custo adicional) a 5 de março. Esta será a primeira vez que o Disney+ português usa essa modalidade do pagamento, seguindo o exemplo do lançamento da versão em imagem real de "Mulan" entre 4 de setembro e 2 de novembro de 2020 nos EUA, Grã-Bretanha, Espanha, Itália, Nova Zelândia e outros países. Em Portugal ou França, "Mulan" ficou disponível sem custo adicional na plataforma a partir 4 de dezembro.
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