A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, criticou nesta segunda-feira (domingo em Portugal) um projeto de filme sobre a sua resposta aos ataques a duas mesquitas a 15 de março 2019, por considerar que seria inapropriado e mal direcionado.
A presidente de câmara de Christchurch, onde aconteceram os ataques, também disse que a equipa do filme não será bem-vinda à cidade.
Anunciado no mercado virtual de Cannes na quinta-feira, o projeto cinematográfico apoiado pelos Estados Unidos, intitulado "They are us" [Eles somos nós, em tradução literal], gerou repercussões negativas entre os muçulmanos na Nova Zelândia, que acreditam que ele promove a narrativa do "salvador branco".
Uma das produtoras, Philippa Campbell, uma veterana recentemente ligada à série de sucesso "Top Of The Lake", já desistiu e pediu desculpa pelo seu envolvimento, alegando que desconhecia a dor que causaria. Porém, garante que o filme não se vai focar apenas em Ardern, mas prestar homenagem às vítimas e suas famílias, bem como aqueles que as ajudaram.
Os ataques realizados por um supremacista branco armado contra duas mesquitas deixaram 51 mortos e 40 feridos, um assunto que permanece bastante sensível para muitos no país, de acordo com Ardern.
Ela disse que os cineastas não a consultaram sobre o filme, no qual a atriz australiana Rose Byrne interpretará a governante de centro-esquerda.
"Na minha opinião, que é uma visão pessoal, parece muito cedo e muito sensível para a Nova Zelândia", disse Ardern à TVNZ.
“E embora haja muitas histórias que deveriam ser contadas a certa altura, não considero a minha uma delas. São as histórias da comunidade, das famílias”, afirmou.
Ardern foi elogiada pela sua maneira empática e inclusiva de lidar com os ataques, o pior massacre da história moderna da Nova Zelândia.
O título do filme refere-se a uma parte do discurso que proferiu após o ataque, quando prometeu apoiar a comunidade muçulmana e endurecer o controlo de armas.
A Associação Nacional de Jovens Islâmicos reuniu 58 mil assinaturas em apoio a um apelo para suspender a produção do filme, cujo argumentista é o neozelandês Andrew Niccol (o mesmo do clássico "The Truman Show - A Vida em Directo").
Da mesma forma, o poeta muçulmano Mohamed Hassan disse que os cineastas deveriam concentrar-se na comunidade que sofreu os ataques e não usá-los como pretexto para uma história positiva sobre Ardern.
O agressor Brenton Tarrant, um supremacista branco australiano, foi condenado no ano passado à prisão perpétua, a primeira vez que essa pena foi imposta na Nova Zelândia.
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