A cerimónia dos César, o Óscar do cinema francês, é esta sexta-feira (28) com poucos motivos para festa: criticada, a sua direção renunciou e um dos protagonistas, o cineasta Roman Polanski, desistiu de comparecer por causa dos protestos de grupos feministas.
"J’Accuse - O Oficial e o Espião", o seu filme sobre o histórico caso Dreyfus, lidera com 12 nomeações, ao lado de "Os Miseráveis", o retrato de uma periferia parisiense nomeado para os Óscares.
Este reconhecimento provocou a revolta de associações feministas, que destacam que Polanski é objeto de várias acusações de violação.
A pressão levou Polanski, de 86 anos, a desistir de participar no evento. Em 2017, ele já tinha renunciado à presidir à cerimónia pela mesma razão.
"Lamento tomar esta decisão, a de não enfrentar um tribunal de opinião autoproclamado disposto a desprezar os princípios do Estado de Direito para que o irracional triunfe novamente", afirmou em comunicado.
Várias associações feministas convocaram manifestações.
"Sabemos de antemão o que vai acontecer. As ativistas já me ameaçam com um linchamento público. Alguns anunciam protestos à frente à Sala Pleyel de Paris, onde a cerimónia irá decorrer", escreveu Polanski.
"Tenho que proteger a minha família, a minha mulher e os meus filhos, que são submetidos a ofensas, afrontas", concluiu.
Premiado em Veneza
A polémica sobre as nomeações de "J'accuse", que também recebeu o Grande Prémio do Júri no Festival de Veneza, terá contribuído para a renúncia, no início do mês, da direção da Academia do César, também criticada por uma gestão "obsoleta".
A estreia da longa-metragem no fim de 2019 na França foi marcada por pedidos de boicote após uma fotógrafa francesa, Valentine Monnier, dizer à imprensa que Polanski a violou em 1975, quando ela tinha 18 anos. O realizador negou a acusação.
Polanski é considerado foragido da Justiça dos Estados Unidos, onde foi acusado, em 1977, de violar uma adolescente de 13 anos.
Nos últimos anos, outras mulheres afirmaram que foram vítimas de agressões sexuais por parte do realizador de "O Pianista".
A polémica à sua volta coincide com a condenação esta semana do antigo produtor de Hollywood Harvey Weinstein - considerado culpado de agressão sexual e de violação - um escândalo que lançou o movimento global #MeToo.
Em entrevista ao New York Times, Adèle Haenel, a primeira atriz francesa de renome que denunciou ter sido vítima de abuso sexual na sua indústria cinematográfica, estimou que a França "deixou partir o comboio" do #MeToo.
"Premiar Polanski é cuspir na cara de todas as vítimas. É o equivalente a dizer: 'não é tão grave violar mulheres'", disse.
Antes da cerimónia, a Academia francesa anunciou uma nova presidente interina, Margaret Menegoz.
Outros destaques nesta cerimónia são "A Bela Época" (11 indicações) e "Retrato da Rapariga em Chamas" (10).
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