Os habitantes de Mogadíscio, a capital da Somália, assistiram esta quarta-feira (22) à primeira projeção de cinema em 30 anos, um evento cultural rodeado por rígidas medidas de segurança.
O local da exibição, o Teatro Nacional da Somália, doado pelo líder chinês Mao Tsé-Tung em 1967, testemunhou décadas tumultuadas neste país do Corno de África. Foi alvo de ataques suicidas e serviu de base para senhores da guerra.
"Será uma noite histórica para os somalis", disse o seu diretor, Abdikadir Abdi Yusuf, algumas horas antes.
A programação de estreia: dois curtas do realizador somali de 28 anos IBrahim CM, "Hoos" e "Date from Hell". A entrada custou cerca de 8,50 euros, um preço elevado para muitos habitantes de Mogadíscio.
A capital já teve muitos cinemas, mas eles fecharam quando a guerra civil rebentou em 1991.
Caído em desuso, o Teatro Nacional foi reaberto em 2012, mas destruído duas semanas depois pela Al Shabab, uma milícia islâmica ligada à Al Qaeda que comete ataques na cidade.
Restaurado, a sua reabertura traz lembranças de momentos felizes.
“Nos velhos tempos, ia ao Teatro Nacional para ver concertos, peças de teatro, espetáculos pop, danças folclóricas e filmes. Entristece-me ver Mogadíscio sem a vida noturna que existia antes”, disse Osman Yusuf Osman, um cinéfilo.
"Mas é um bom começo [...] Não vou perder este acontecimento histórico esta noite", declarou à agência France-Presse (AFP) antes da sessão.
Outros estavam menos entusiasmados e preocupavam-se com a segurança, como Hakimo Mohamed, mãe de seis filhos, que frequentava o local quando era criança.
“As pessoas saíam à noite e ficavam até tarde se quisessem, mas agora não acho muito seguro”, comentou.
A Al Shabab foi expulsa de Mogadíscio há dez anos, mas continua controlando as áreas rurais.
Segundo fontes contactadas pela AFP, a noite decorreu sem nenhum incidente de segurança.
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