
Para abordar o tema da política egípcia no seu novo filme de ficção, o realizador Tarik Saleh decidiu que tinha que incluir o atual presidente do país.
O resultado é "Eagles of the Republic", um 'thriller' político explosivo que estreou na segunda-feira no Festival de Cannes, onde disputa a Palma de Ouro.
O realizador sueco de origem egípcia usou imagens reais do presidente Abdel Fatah al Sisi e até encontrou um duplo para interpretá-lo por breves momentos.
"Não tenho outra escolha porque ele é uma constante. Ficará lá até morrer", disse à France-Presse o cineasta radicado na Suécia antes da exibição do filme na principal mostra competitiva de Cannes.
"Eagles of the Republic" é a sua terceira longa-metragem ambientada de forma ficcional na capital egípcia, após "The Nile Hilton Incident" (2017) e "Cairo Conspiracy", que ganhou o prémio de Melhor Argumento em Cannes em 2022.
O filme é um ataque frontal e explícito à cúpula atual no poder no Egito, e inclui uma reviravolta arrepiante que Saleh diz tê-lo surpreendido inclusive no momento em que a escreveu.

Rodado na Turquia na sua maioria com atores não egípcios, o filme começa por acompanhar George Fahmy, o ator mais famoso do Egito, que é pressionado para protagonizar um filme de propaganda sobre o líder do país.
Interpretado pelo ator sueco-libanês Fares Fares, Fahmy não se parece em nada com o general que se tornou presidente e é muito mais alto do que ele, mas isso não parece ser um problema para as autoridades.
Durante décadas, o exército egípcio teve uma participação importante na economia e após al Sisi tomar o poder, ele "apoderou-se da indústria cinematográfica num ano", denunciou Saleh.
Para escrever o seu filme, o realizador contou ter-se inspirado numa série de TV egípcia chamada "The Choice" ("A Escolha", em tradução livre), na qual o ator Yasser Galal interpreta al Sisi na sua ascensão ao poder.
"Galal, que é um ator muito alto e muito bonito, interpreta-o. E quando vi esta série, pensei: 'Isto é absurdo'. Quero dizer, al Sisi mede 1m66", diz Saleh.
O líder egípcio foi apresentado sistematicamente como alguém "muito nobre" e o presidente islamita que depôs em 2013, Mohamed Morsi, foi retratado como "vesgo", acrescentou.
Al Sisi "sob pressão"

Residente na Suécia, Saleh disse ter-se perguntado o que faria se morasse no Egito e as autoridades lhe pedissem para dirigir uma história assim.
O resultado é que o realizador fictício do filme tem o mesmo nome que ele.
Desde 1952, o Egito foi governado por um presidente vindo do exército, com exceção de Morsi, eleito após a Primavera Árabe, em 2011.
Desde que explodiu a guerra em Gaza, após o ataque do grupo islamista palestiniano Hamas a Israel, em outubro de 2023, o governo de Al Sisi anda sobre uma corda bamba diplomática.
Condena as operações militares israelitas e rejeitou a proposta do presidente americano, Donald Trump, de ocupar a Faixa de Gaza e empurrar os seus mais de dois milhões de habitantes para os vizinhos Egito e Jordânia.
Mas também tem mediado as conversações para alcançar uma trégua e mantém relações diplomáticas com Israel.
Al Sisi está "sob pressão por causa do conflito", disse Saleh.
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