Está aberto o caminho para mudanças históricas na indústria cinematográfica da França.

Embora o lançamento em simultâneo de filmes nos cinemas e plataformas de streaming seja cada vez mais habitual nos EUA (ou após 45 dias), as regras são muito mais restritivas na Europa, nomeadamente na França: as plataformas de streaming só tinham acesso aos filmes 36 meses após a sua data de estreia nas salas, um sistema de proteção da indústria do cinema que era visto cada vez mais como arcaico.

O prazo (conhecido por janela na indústria) tem sido um grande entrave por exemplo à expansão da Netflix no mercado francês: a plataforma tem mantido as suas produções originais fora das principais secções do Festival de Cannes porque a organização exige que os filmes que integrem a competição oficial pela Palma de Ouro sejam lançados nas salas de cinema em França.

Mas após meses de debates e conflitos, chegou-se a um acordo assinado com a Ministra da Cultura francesa Roselyne Bachelot na segunda-feira para criar novas regras à volta das janelas para o lançamento de filmes, que junta exibidores (cinemas), canais de televisão pagos e gratuitos, e serviços de subscrição.

Para a Netflix, o novo acordo dificilmente resolverá o "problema de Cannes", mas reduz significativamente a janela: em vez dos 36 meses, passará a ter acesso aos filmes 15 meses depois da estreia nas salas, um prazo que pode ser revisto para 12 meses após nova avaliação em 2023.

Em troca, a plataforma irá investir cerca de 40 milhões de euros para produzir 10 filmes franceses por ano, cujos direitos ficarão para os seus produtores e criadores.

"Este acordo é um primeiro passo significativo para a modernização da cronologia dos media. Reflete tanto a nossa contribuição construtiva para o processo de negociação como o nosso compromisso em contribuir para a indústria cinematográfica francesa”, destacou um porta-voz da Netflix.

Optando por ficar fora deste acordo, Amazon e Disney+, as outras duas grandes plataformas de streaming a operar na França, poderão disponibilizar os filmes 17 meses depois da estreia nos cinemas (e existem receios que a Disney opte por lançar mais títulos diretamente na sua plataforma na França sem passar pelas salas para evitar este prazo).

Os principais canais de televisão (TF1, M6, France Télévisions e Arté) ficam com uma janela exclusiva para exibir os filmes a partir dos 22 meses até aos 36, mas podem estabelecer acordos com as plataformas que os mantenham disponíveis nos dois segmentos.

Mas o grande vencedor no acordo é o Canal+, o principal pilar de apoio à indústria de cinema francesa, que recentemente confirmou que investirá mais de 600 milhões de euros nas produções locais nos próximos três anos: em vez dos oito meses de que já beneficiava, poderá disponibilizar os filmes apenas seis meses após a estreia nos cinemas.