De Julia Roberts a Meryl Streep, passando por Reese Witherspoon e Michael Douglas, as estrelas de Hollywood são cada vez mais atraídas pela televisão, que atravessa o seu melhor momento com inúmeras produções de alta qualidade e uma expansão do seu alcance com as plataformas de "streaming". E, claro, com os seus bons salários.
Somente as cinco grandes plataformas - Netflix, Amazon, Hulu, além das novas Disney+ e Apple TV+ - planeiam gastar 27 mil milhões de dólares em conteúdos este ano, de acordo com um relatório recente do FilmLA.
Esse valor é aproximadamente o orçamento combinado dos 130 filmes mais caros já feitos, o que ajuda as estrelas consagradas do cinema a darem um salto para a televisão.
Witherspoon e Jennifer Aniston estão a ganhar dois milhões de dólares por cada episódio da principal série da Apple TV+, "The Morning Show", que já tem aprovada uma segunda temporada de 10 episódios.
"O grande impacto que o 'streaming' tem na indústria da televisão não é exagerado", diz o relatório da FilmLA.
Mas esse protagonismo, que também entrou no mercado cinematográfico, é o resultado de um fenómeno que começou com o renascimento da televisão, que conquistou uma geração de espectadores viciados em programas lendários.
Muitos canais estão a desenvolver as suas próprias plataformas.
"Mudou a minha carreira"
Michael Mann, o aclamado realizador de filmes como "Heat - Cidade Sob Pressão" e "O Último dos Moicanos", disse que a qualidade da televisão nos Estados Unidos ultrapassa em muitos casos a de filmes, algo que não era comum quando produziu "Miami Vice", nos anos 80.
"A perceção era bastante provinciana, você era classificado como uma coisa ou outra", recordou à AFP.
"Era o cinema olhando de cima para a televisão, com razão, porque a diferença era abismal" entre um e outro, salientou.
Hoje "alguns dos melhores argumentos estão a aparecer na televisão", acrescentou Mann, indicando como exemplos o 'thriller' da Netflix "Ozark" ou a minissérie da Showtime "Patrick Melrose", protagonizadas respetivamente por Jason Bateman e Benedict Cumberbatch.
Destaque também para Julia Roberts no drama da Amazon "Homecoming" e Michael Douglas na comédia da Netflix "The Kominsky Method", pela qual ganhou um Globo de Ouro e foi nomeados para os Emmy.
Jim Carrey também foi a estrela da comédia do canal Showtime "Kidding", enquanto Witherspoon já havia migrado para a televisão, aparecendo em "Big Little Lies" da HBO, com um elenco que, na segunda temporada, a juntou a Meryl Streep, Nicole Kidman, Laura Dern e Zoe Kravitz.
No lançamento do "The Morning Show" em Los Angeles, Witherspoon disse que se sentiu atraída pela televisão porque oferecia mais oportunidades diversificadas, principalmente para atrizes mais velhas e pertencentes a minorias, numa época em que Hollywood se inclinava a trabalhar tradicionalmente com homens brancos.
"A ideia de que os serviços de 'streaming' têm dados empíricos que apontam que o público deseja ver pessoas de diferentes idades, origens diferentes... cria uma oportunidade para novas vozes surgirem e novos narradores", notou.
"Portanto, sou muito grata pelo 'streaming'. Mudou a minha carreira", garantiu sem reservas.
"A televisão mudou"
Os realizadores também procuram novas oportunidades na televisão.
Michael Mann está a trabalhar numa série de televisão sobre a Guerra do Vietname, enquanto Steven Spielberg produz uma série de terror para a Quibi, que oferecerá conteúdo em segmentos de até 10 minutos para dispositivos móveis.
Spielberg também trabalha em "Masters of the Air", uma continuação da série "Irmãos de Armas" da HBO, para a nova Apple TV+.
Ben Stiller, que participou de filmes de sucesso como "Zoolander" e "Um Sogro do Pior", voltou às raízes este ano atrás das câmaras, dirigindo o drama "Escape at Dannemora", da Showtime.
"Nunca fiz nada assim", disse a jornalistas num evento de televisão em Los Angeles.
"Sempre quis fazer coisas mais sérias e trabalhar em diferentes áreas como realizador. A televisão mudou", concluiu.
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