Atores mexicanos e outros profissionais protestaram contra a crescente ameaça que a Inteligência Artificial representa para a sua indústria, pedindo no domingo por melhores regulamentações para impedir a clonagem de voz sem consentimento.

A ascensão da IA foi um tema central nas greves de atores e argumentistas de Hollywood em 2023, já que os criadores temiam que os estúdios usassem a tecnologia para substituir conteúdo pago.

No ano passado, a atriz Scarlett Johansson acusou a empresa de tecnologia OpenAI de imitar a sua voz para um dos seus chatbots. A empresa respondeu modificando o tom.

Do histórico Monumento à Revolução, no centro da Cidade do México, dezenas de profissionais do audiovisual seguravam cartazes, incluindo os que diziam: "Não quero ser substituído pela IA".

"Solicitamos que a voz seja considerada biométrica para que seja protegida", disse Lili Barba, presidente da Associação Mexicana de Anúncios Comerciais, à agência France-Presse (AFP).

A atriz de 52 anos, conhecida por dar voz a Margarida, da Disney, referiu-se a um vídeo do Instituto Nacional Eleitoral (INE) no TikTok.

Divulgado após as eleições judiciais de 1 de junho, o vídeo usou a voz do falecido ator José Lavat — famoso pela dobragem em castelhano de estrelas como Robert De Niro e Al Pacino — para agradecer aos cidadãos pelo voto.

De acordo com a imprensa local, a voz de Lavat foi usada sem o consentimento da sua família.

"É uma violação grave e não podemos permitir", disse Barba.

A atriz Harumi Nishizawa, de 35 anos, disse que dobrar uma personagem é "como bordar".

"Como artista, pode-se criar certos tons, prestar atenção às nuances... observar as expressões reais dos atores e tentar imitar o que está a acontecer no ecrã", explicou.

Se nenhuma legislação for aprovada, diz que a dobragem feita por humanos "desaparecerá", às custas de milhões de empregos de artistas.

Em março, a plataforma de streaming Amazon Prime Video anunciou testes de um sistema de dobragem assistido por IA, uma tecnologia também promovida pelo YouTube.

No mês passado, a gigante do entretenimento sul-coreana CJ ENM — por trás do filme vencedor dos Óscares "Parasitas" — apresentou uma ferramenta de IA que combina recursos visuais, áudio e voz num único sistema, gerando automaticamente personagens 3D consistentes.

Mas dobradores humanos ainda têm vantagem, diz Mario Heras, diretor de dobragem de videojogos no México.

A IA não consegue fazer os diálogos "soarem engraçados, atormentados, estranhos — ou vivos", notou.

O fator humano, acrescentou, "protege-nos nesta rebelião contra as máquinas".