A associação entre Hollywood e o poder político sempre foi sempre um facto notório para os observadores atentos da sétima arte - embora, na maioria das vezes, a propaganda seja feita com subtileza e escondida atrás de artifícios narrativos e estratégias de marketing.

II GUERRA MUNDIAL E McCARTHISMO

Conforme explica o catedrático, um primeiro contexto da conferência é o momento inicial da Guerra Fria, no final dos anos 1940 até meados dos anos 1950. Nesta altura, a indústria cinematográfica foi pressionada pelo Congresso (nomeadamente através das investigações do House Un-American Activities Committee) para se alinhar à política anti-comunista de Washington.

“Isso resulta no afastamento de membros da indústria suspeitos de terem simpatias comunistas e numa onda de produções de elevado teor nacionalista e anti-comunista - na maioria dos casos, feitas por iniciativa dos estúdios sem supervisão estatal”, observa.

Também neste período, as forças militares envolvidas na ocupação da Europa, sobretudo na Alemanha, colaboram também com Hollywood para facilitar filmagens nesse território e promover a boa imagem das tropas. O filme “Anjos Marcados”, de 1948, por exemplo, é um produto desta estratégia.

“Para além disso”, reforça, “há um conjunto de instituições públicas que procuram influenciar (muitas vezes secretamente) a produção e distribuição de filmes com potencial propagandístico: FBI, CIA e US Intelligence Agency”.

A PROPAGANDA PÓS DERROTA NO VIETNAME

Numa fase seguinte, os americanos enfrentaram uma dura derrota no longo conflito do Vietname – enquanto a indústria do cinema sofria as suas próprias mudanças.

Rui Lopes destaca que, a partir daí, as Forças Armadas começam a investir em grandes produções, fornecendo financiamento, equipamento e consultadoria a blockbusters que lhes possam favorecer a imagem pública. Nesta linha, um dos casos de maior sucesso foi “Top Gun”, em 1986. “Esta prática mantém-se até aos dias de hoje e estende-se para além do cinema a outras formas de entretenimento”, enfatiza.

O IMPERIALISMO CULTURAL SUBTIL

Certamente nem todo o imperialismo é óbvio e vem daí uma das ideias chaves da abordagem – a de “imperialismo subtil”.

“O imperialismo cultural mais ‘subtil' é aquele que não procura impor uma ideia dos EUA como heróico ou defensor da liberdade”, analisa. Não obstante, seja através da hegemonia no mercado, seja através da própria generalização e valorização de um certo tipo de cinema – com os seus géneros formulaicos, os seus códigos audiovisuais, as suas narrativas recicladas – os filmes promovem a identificação com valores e práticas da cultura norte-americana.

Uma das fontes principais desta ideia de “imperialismo subtil” é o livro de Victoria de Grazia, “Irresistible Empire: America's Advance Through 20th Century Europe”. “O argumento maior livro”, salienta o investigador, é o de que, “em última instância, ajudaram a desenvolver a própria sociedade de consumo que absorve os seus produtos - ou seja, não só produziram bens de consumo, como também produziram os próprios consumidores”.