Helen Mirren voltou a falar sem papas na língua e tornou-se a primeira grande estrela de cinema a não ter medo de colocar em causa uma futura relação com a Netflix.
Esta terça-feira, a lendária atriz britânica foi uma das estrelas da CinemaCon, a convenção antigamente conhecida por ShoWest que está a juntar em Las Vegas os proprietários das salas de cinema e onde os estúdios antecipam algumas das suas maiores novidades para os próximos meses.
A representar o filme "The Good Liar" durante a apresentação da Warner Bros, a vencedora de um Óscar por "A Rainha" não foi de modas no debate entre cinemas e plataformas de streaming, apontando as baterias para a maior de todas: "Adoro a Netflix, mas a Netflix que se f***."
"Não há nada como estar sentado no cinema, as luzes apagarem-se, o incrível momento de emoção...", acrescentou.
A atriz continou, defendendo que não há experiência comparável à de ver um filme com outras pessoas num espaço comum como uma sala de cinema.
Ansiedade pelo streaming
O presidente da associação que junta os proprietários dos cinemas disse aos seus membros que os serviços de streaming não têm de ser vistos como uma ameaça ao negócio e que as partes podem coexistir.
John Fithian citou um estudo de 2017 da Ernst & Young que revelou que os espectadores frequentes das salas de cinema também passam mais tempo a ver filmes em streaming nas suas casas.
A Disney, a Comcast (dona da Universal) e a Warner Media (da Warner Bros.) planeiam lançar plataformas online nos próximos meses.
No meio da ansiedade generalizada pelo streaming, surge a questão de se deveria ser reduzida a janela de exclusividade que os cinemas têm de 90 dias para exibir um filme nos Estados Unidos.
A Netflix tem sido criticada precisamente por privilegiar a distribuição na internet e marginalizar as salas de cinema.
"Espero que um dia a Netflix entenda que, se eles realmente quiserem produzir filmes, eles terão que estrear no cinema", afirmou Jérôme Seydoux, CEO da Pathé.
"Não se pode produzir filmes de certo calibre, com grandes realizadores, sem mostrá-los ao público [...] Se eles não aparecem no cinema, então não são filmes, como diz [o realizador Steven] Spielberg; são programas de televisão", acrescentou, sendo aplaudindo de pé.
Alegadamente, o veterano cineasta propôs bloquear a Netflix nos Óscares, argumentando que, se for o caso, os filmes que estrearem em plataformas de streaming ou tiverem uma pequena distribuição nos cinemas, deveriam, então, disputar os prémios Emmy [da televisão].
De qualquer forma, o cinema está longe de perder o seu espaço: o ano de 2018 marcou um recorde de bilheteira com mais de 11 mil milhões de dólares.
"Estou há 30 anos na indústria cinematográfica e sempre houve coisas que ameaçavam o negócio do cinema, como o VHS, a TV por cabo, mas esta é uma indústria que sabe resistir, que sempre descobre maneiras inovadoras e assim as pessoas regressam", declarou Ray Nutt, CEO da distribuidora Fathom Events, falando à agência AFP.
"As pessoas ainda querem sair de casa, querem a experiência comum e, apesar de parecer cliché, isto é uma realidade", acrescentou.
Fathom constatou isso com reapresentações bem sucedidas de clássicos como "Momento da Verdade" [The Karate Kid] e "E Tudo o Vento Levou".
Ausência da Fox marca a CinemaCon este ano
A viagem que Hollywood faz todos os anos a Las Vegas para a CinemaCon conta agora com uma grande ausência: a 20th Century Fox.
Sim, o evento terá a presença da Disney, que ainda no primeiro semestre deste ano vai concluir a operação de compra da maioria dos ativos do tradicional estúdio, que nunca deixou de participar da convenção que reúne produtores e distribuidores de filmes com os donos das salas de cinemas.
"Negócios são negócios; a vida é feita de mudanças", afirmou Mitch Neuhauser, diretor-geral da associação dos proprietários de salas de cinema nos Estados Unidos.
"Só podemos desejar à Disney o melhor, estamos aqui para apoiá-los", acrescentou.
Mas comentou ainda que a situação tem um "um sabor agridoce".
"Nós perdemos amigos da 20th Century Fox, eles estavam aqui desde o início, eram grandes parceiros e vamos sentir a falta deles", salientou.
A Disney investiu 71,3 mil milhões de dólares na aquisição da 20th Century Fox, que inclui vários canais por assinatura.
A operação permitirá que o estúdio do rato Mickey expanda a sua oferta de conteúdo, agora que o grupo está a preparar a sua plataforma de streaming Disney +.
Pikachu, Elton John, Avengers...
A Neon abriu as apresentações dos estúdios na segunda-feira com o drama musical "Wild Rose", enquanto que a Warner apresentou esta terça um resumo dos 20 títulos que estrearão este ano, incluindo "Detetive Pikachu".
A Universal terá a sua vez na quarta-feira e, segundo a imprensa especializada, deve insistir na sua aposta do ano passado - com "Mamma Mia!" e Cher - e concentrar-se no também musical "Cats".
A Disney chega com a garantia de grandes sucessos com filmes como "Vingadores: Endgame", "Aladdin", "Toy Story 4", "O Rei Leão", "Frozen 2", entre outros.
"Rocketman", o "biopic" sobre Elton John, dominará a apresentação da Paramount na quinta-feira.
A expectativa é se o lendário artista britânico estará presente ou se Taron Egerton, que o interpreta, dará ao público presente a prenda de cantar ao vivo.
Além da ausência da Fox, a Sony também não apresentará as suas produções, entre elas "Era uma vez em Hollywood", de Quentin Tarantino, "Men in Black: International" ou o novo "Homem-Aranha: Longe de Casa".
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