Um movimento coletivo de trabalhadores do cinema convocou esta segunda-feira uma greve “de todos os funcionários do Festival de Cinema de Cannes e secções paralelas” com o objetivo de “perturbar" o maior evento da Sétima Arte do mundo.
A decisão é tomada uma semana antes do arranque: a 77.ª edição decorrerá de 14 a 25 de maio.
Questionada pela France-Presse, a organização do festival não reagiu por agora.
O grupo, conhecido por 'Collectif des précaires des festivais de cinéma' ('Coletivo dos trabalhadores precários dos festivais de cinema', em tradução literal), juntou cerca de 50 membros em assembleia geral para votar a favor desta greve, explicou uma das suas porta-vozes.
Esta convocatória, que é extremamente rara, não põe em causa a abertura ou realização do festival em si, esclareceu, e o objetivo é não prejudicar os filmes que serão apresentados. Mas uma greve poderá “perturbar o evento”, acrescentou.
Trabalhadores essenciais como projecionistas, programadores, assessores de imprensa, responsáveis pela emissão de ingressos ou pela receção de convidados votaram pela greve, detalhou.
Cercam de 200 profissionais fazem parte do protesto a nível nacional, que não visa especificamente as condições de trabalho do Festival de Cannes.
Segundo inquéritos internos, cerca de 80% dos trabalhadores dos festivais ganham menos de dois mil euros por mês em contrato, um valor que torna impossível viver por exemplo em Paris.
Deplorando a crescente precariedade dos seus empregos, usados de forma temporária por diferentes festivais durante o ano, estes profissionais querem beneficiar do estatuto de trabalhadores de curto prazo na indústria do entretenimento, do qual estão excluídos.
Estes trabalhadores têm subsídio de desemprego quando estão entre empregos ou projetos, financiado pelos impostos pagos pelas entidades empregadoras: para se qualificarem, têm de provar que trabalharam um determinado número de horas durante um ano financeiro. No entanto, muitos trabalhadores dos festivais estão excluídos e são contratados e recebem contratos fixos de curto prazo.
Os profissionais denunciam ainda a reforma do sistema de pensões, aprovada por decreto pelo governo francês no ano passado, que endurece as regras de segurança social, a tal ponto que “a maioria (deles) terá que abandonar” a profissão.
Um ar de maio de 68
“Os nossos alertas e as nossas reivindicações foram até agora recebidas com cortesia, mas nenhuma proposta concreta foi apresentada pelo CNC [Centro Nacional de Cinema] ou pelo Ministério da Cultura”, insistem em comunicado.
O 77.º Festival de Cinema de Cannes decorrerá na Croisette de 14 a 25 de maio, com cerca de uma centena de filmes, dezenas de estrelas como Francis Ford Coppola, George Lucas, Meryl Streep e Adam Driver, e dezenas de milhares de 'festivaleiros'.
Apenas uma edição foi comprometida por um movimento social: o 21.º Festival teve que ser abreviado, ultrapassado pelos acontecimentos do maio de 1968, com a presença de ativistas ilustres: Jean-Luc Godard, François Truffaut e Claude Lelouch.
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