Depois de uma década a fazer alguns dos maiores filmes de super-heróis de Hollywood, o realizador Zack Snyder regressou às criaturas que o tornaram famoso: zombies. E desta vez em Las Vegas.
Em "Exército dos Mortos", que estreia em alguns cinemas dos Estados Unidos esta sexta-feira e será lançado na Netflix a 21 de maio, a cidade foi colocada em quarentena após ser invadida por hordas de mortos-vivos.
Um grupo de mercenários armados tenta entrar na cidade sitiada para roubar milhões de dólares de um cofre, tendo apenas algumas horas antes de uma bomba nuclear cair sobre os hediondos residentes de "Sin City".
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Para um realizador que fez o seu nome com "O Renascer dos Mortos" (2004), uma nova versão de "Zombie - A Maldição dos Mortos-Vivos" (1978), de George A. Romero, uma sátira ao consumismo que deixava os zombies soltos num centro comercial, foi uma jogada fácil.
"É um filme de zombies sobre um gangue de assassinos de zombies que vão para uma Las Vegas infestada de zombies para conseguir dinheiro", lembrou Snyder sobre o que disse aos executivos da Netflix.
"A reação deles não foi tipo, 'Oh Deus, não vamos fazer esse filme. Ninguém quer ver isso!'", relata.
Apesar de seu humor agudo, o filme, uma espécie de homenagem a obras do género como "Nova-York 1997" (1981, John Carpenter) e "Aliens: O Recontro Final" (1986, James Cameron), e de "assalto" como "Ocean's Eleven - Façam as Vossas Apostas" (2001, Steven Soderbergh), tem um valor emocional para Snyder.
É o seu primeiro filme desde que teve de deixar a direção da aventura de super-heróis da DC Comics "Liga da Justiça", em 2017, devido ao suicídio da sua filha.
Snyder, de 55 anos, teve a ideia de um filme de "assalto com zombies" anos antes, mas reescreveu-o para se concentrar no relacionamento entre um progenitor duro (Dave Bautista) e a sua filha afastada (Ella Purnell).
"Como ser humano, evoluí desde que fiz 'O Renascer dos Mortos'", recorda numa conferência de imprensa por zoom.
"E só porque tenho o relacionamento que tenho com os meus filhos e por ser pai [...] Essa parte do filme realmente tornou-se muito mais importante para mim do que era há 15 anos", acrescentou.
"O personagem de Dave está a tentar relacionar-se novamente com a sua filha. Sim, é um filme de assalto com zombies, mas, no fim das contas, é realmente um filme de personagens em muitos sentidos", afirma.
"Piores do que os zombies"
Claro que outras mudanças profundas afetaram o mundo desde que Snyder começou a rodar "Exército dos Mortos" em 2019, dando ao filme um ar assustador de prenúncio.
A pandemia da COVID-19 apagou as luzes brilhantes dos casinos de Las Vegas e de Hollywood, e o ex-presidente Donald Trump foi removido do cargo pelos eleitores americanos.
No filme, os refugiados de Las Vegas estão confinados em jaulas e são submetidos a verificações aleatórias de temperatura por guardas brutais, enquanto canais de notícias tendenciosos perguntam: "Quarentena: verdade ou medo?".
Enquanto isso, a decisão de lançar uma bomba nuclear em Las Vegas a 4 de julho é ideia de um presidente anónimo dos Estados Unidos que acha que a ideia de fogos de artifício no Dia da Independência seria "muito boa" e "patriótica".
"Houve muitas coisas malucas que deram novo valor ao filme, de uma forma ou de outra", constatou Snyder num comunicado à imprensa.
"Queríamos concentrar-nos em como uma praga de zombies afetaria os marginalizados e como o governo poderia usar algo como uma praga de zombies para tirar certas liberdades", acrescentou.
"As interpretações são completamente diferentes agora do que quando começámos. Mas o truque para filmes de zombies continua o mesmo: no final, os humanos são piores do que zombies", completou.
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