A caminho dos
Óscares 2025
Num palmarés muito, muito francês, "Emília Perez", de Jacques Audiard, foi o grande vencedor da 37.ª edição dos Prémios Europeus de Cinema, que decorreu este sábado à noite em Lucerna, Suíça.
Numa cerimónia que se prolongou por três horas e 20 minutos sem intervalos e tal como aconteceu no ano passado com "Anatomia de uma Queda", a produção francesa traduziu em prémios todas as nomeações que recebera dos votantes da Academia de Cinema Europeu: Melhor Filme Europeu de 2024, Realização, Argumento e Atriz, com a mulher transgénero Karla Sofía Gascón a fazer história. Juntou um quinto, o 'prémio de excelência' para a Montagem de Juliette Welfling, onde não havia nomeados.
VEJA O DISCURSO DE KARLA SOFÍA GASCÓN.
Já nos cinemas portugueses, "Emília Perez" mergulha na história de um traficante de drogas que se arrepende da sua vida criminosa após mudar de sexo. O musical mistura vários géneros, como é habitual em Audiard, e inclui uma coreografia memorável da advogada de Emília Pérez, interpretada por Zoe Saldaña, que denuncia abertamente a alegada corrupção das elites mexicanas.
Após ganhar dois prémios no Festival de Cannes, foi selecionado para representar a França ao Óscar de Melhor Filme Internacional: os 15 finalistas dessa e de outras categorias serão anunciados a 17 de dezembro.
Os Prémios Europeus de Cinema que visam reconhecer a excelência da produção na Europa e são entregues anualmente pela Academia Europeia de Cinema, atualmente presidida pela atriz Juliette Binoche e composta por cerca de cinco mil profissionais, deixaram sem prémios os outros dois filmes mais nomeados: “O Quarto ao Lado”, do espanhol Pedro Almodóvar, e "The Seed of the Sacred Fig", do realizador iraniano exilado Mohammad Rasoulof.
O mesmo aconteceu à presença portuguesa: “2720”, de Basil da Cunha, perdeu Melhor Curta-Metragem Europeia para a norueguesa "The Man Who Could Not Remain Silent", de Benjamin Ree, e a coprodução portuguesa “Mataram o Pianista”, dos espanhóis Fernando Trueba e Javier Mariscal, viu "Flow - À Deriva", de Gints Zilbalodis, ganhar Melhor Longa-Metragem de Animação (e também concorria a Melhor Filme Europeu).
Numa surpresa, o Melhor ator Europeu foi para o estreante Abou Sangare: o protagonista de "L'Histoire de Souleymane" venceu Ralph Fiennes ("Conclave"), Daniel Craig ("Queer"), Franz Rogowski ("Bird") e Lars Eidinger ("Sterben").
A história é sobre um requerente de asilo sem documentos, a mesma situação enfrentada pelo agora ator de 23 anos, que partiu da Guiné em 2016, aos 15 anos, passou pela Argélia e Líbia, onde foi preso após uma tentativa falhada de atravessar o Mediterrâneo, antes de chegar a Itália e finalmente à França em maio de 2017.
No país, entrou para o liceu e estudou para ser mecânico enquanto tentava legalizar a sua situação: após três recusas de asilo, ganhou o prémio de Melhor Ator na secção “Un Certain Regard” do Festival de Cannes em maio e recebeu uma autorização de residência de seis meses em outubro, quando o seu rosto já estava pelas cidades francesas nos cartazes do filme.
A Descoberta Europeia para Melhor Primeiro Filme (prémio FIPRESCI) foi para "Armand", de Halfdan Ullmann Tøndel (neto do cineasta Ingmar Bergman e da atriz e realizadora Liv Ullmann), cuja história gira em redor de uma suposta luta entre dois rapazes de seis anos e ao processo que os pais e a escola estabelecem para esclarecer o que aconteceu.
O Prémio de Melhor Documentário Europeu foi atribuído a "No Other Land", uma co-produção entre Palestina e Noruega que marca a estreia na realização de um coletivo de quatro ativistas, os israelitas Yuval Abraham e Rachel Szor, e os palestinianos Basel Adra e Hamdan Ballal, que mostram a destruição de Masafer Yatta, na Cisjordânia ocupada, por soldados israelitas e a aliança que se desenvolve entre o ativista palestiniano Basel e o jornalista israelita Yuval.
A Academia de Cinema Europeu atribuiu ainda prémios de excelência aos filmes "A Substância" (Fotografia e Efeitos Visuais), "The Girl with the Needle" (Direção Artística e Banda Sonora), "The Devil's Bath" (Guarda-Roupa), "When the Light Breaks" (Caracterização) e "Souleymane's Story" (Som), bem como prémios de carreira à atriz italiana Isabela Rossellini, ao cineasta alemão Wim Wenders e à produtora macedónia Labina Mitovska.
O PALMARÉS
FILME EUROPEU
"Emília Perez", de Jacques Audiard (França)
REALIZAÇÃO EUROPEIA
Jacques Audiard por "Emília Perez" (França)
ATOR EUROPEU
Abou Sangare por "Souleymane's Story" (França)
ATRIZ EUROPEIA
Karla Sofía Gascón por "Emília Perez" (França)
ARGUMENTO EUROPEU
"Emília Perez" (França)
DOCUMENTÁRIO EUROPEU
"No Other Land", de Yuval Abraham, Rachel Szor, Basel Adra e Hamdan Ballal (Palestina, Noruega)
LONGA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO EUROPEIA
"Flow - À Deriva", de Gints Zilbalodis (Letónia, França, Bélgica)
CURTA-METRAGEM EUROPEIA
"The Man Who Could Not Remain Silent", de Nebojša Slijepčević (Croácia, França, Bulgária, Eslovénia)
DESCOBERTA EUROPEIA - PRÉMIO FIPRESCI
"Armand", de Halfdan Ullmann Tøndel (Noruega, Países Baixos, Alemanha, Suécia)
PRÉMIO DO PÚBLICO JOVEM
"The Remarkable Life of Ibelin", de Benjamin Ree (Noruega)
PRÉMIOS EM CATEGORIAS TÉCNICAS PREVIAMENTE ANUNCIADOS
FOTOGRAFIA EUROPEIA: "A Substância" (França)
MONTAGEM EUROPEIA: "Emília Perez" (França)
DIREÇÃO ARTÍSTICA EUROPEIA: "The Girl with the Needle" (Suécia, Dinamarca)
GUARDA-ROUPA EUROPEU: "The Devil's Bath" (Áustria)
CARACTERIZAÇÃO EUROPEIA: "When the Light Breaks" (Países Baixos)
BANDA SONORA EUROPEIA: "The Girl with the Needle" (Suécia, Dinamarca)
SOM EUROPEU: "Souleymane's Story" (França)
EFEITOS VISUAIS EUROPEUS: "A Substância" (França)
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