A estreia estava prevista apenas para sábado, no MoMA, mas os bilhetes venderam-se em apenas 48 horas e a organização teve de marcar uma segunda data, com a exibição da obra no domingo à tarde, na sala do Anthology Film Archives, de Nova Iorque.

“Acho que foi a primeira vez, nos quase cinco anos de história do Arte Institute, que esgotámos um evento em dois dias”, explicou à Lusa a autora do documentário, Ana Ventura Miranda.

Com produção do Arte Institute, a estreia do filme contará com a presença da cantora Rita Redshoes, que vai interpretar a banda sonora do filme ao vivo, e do escritor José Luís Peixoto, que narra o documentário e é autor dos textos.

Em Portugal, a estreia está agendada para 23 de junho, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, que vai colocar os bilhetes à venda a partir da próxima semana.

“Para o Arte Institute é sempre um grande orgulho mostrar filmes portugueses no MoMA. Ver este trabalho vasto, que tem como principal objetivo recuperar a herança portuguesa no Soho, homenagear estas pessoas extraordinárias e não deixar esta história inédita desaparecer, sem ficar registada, é uma emoção e orgulho muito grande”, explicou à agência Lusa Ana Ventura Miranda.

A diretora do Arte Institute disse que “a estreia ainda vai ser mais emocionante, porque os portugueses retratados no filme vão estar a assistir.”

Ana Miranda deparou-se com a história desta comunidade desconhecida, em Manhattan, quando se mudou para Nova Iorque, e encontrou uma portuguesa que era dona de um prédio de apartamentos na Broome Street.

“A ideia inicial era fazer algo sobre este prédio, porque eu morava nele e era muito interessante haver vários portugueses”, explica.

Depois começaram a surgir outros sinais da presença portuguesa naquele bairro. “Muitas vezes via alguns senhores com os típicos bonés portugueses sentados no parque e pensava: ‘Parecem mesmo portugueses.’ Até que percebi que eram mesmo”, recorda.

A senhoria de Ana, também portuguesa, e estes homens do parque revelaram-se a indicação de uma presença muito mais vasta, que, depois da Segunda Guerra Mundial, entre as décadas de 1960 e 1980, chegara a contar com cerca de 700 famílias.

No seu auge, a comunidade chegara a ter uma escola, igreja, mercados, equipa de futebol e clubes recreativos.

Quando as fábricas começaram a fechar, e a zona se tornou uma das mais apetecíveis da cidade, as rendas altas acabaram por afastar os portugueses, que se foram mudando para Long Island e Nova Jérsia ou que, depois de reformados, regressaram a Portugal.

Hoje, resistem cerca de 20 imigrantes, dois pequenos mercados, que vendem produtos portugueses, e a imagem de Nossa Senhora de Fátima e dos Três Pastorinhos, na fachada de uma das igrejas.

“Em todos os lugares onde apresentámos o 'trailer' [do filme], a reação foi sempre extraordinária. Acho que a verdade de todos os intervenientes passa tanto no filme que é impossível não nos ligarmos a estas pessoas e às suas histórias”, acredita Ana Miranda.

Depois do MoMA, o documentário será mostrado em Berlim, depois, em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, seguindo-se o circuito do NY Portuguese Short Film Festival, que já conta com 14 países.

Ana Miranda diz que outro “objetivo é entregar estas entrevistas a instituições americanas, para que fiquem com um registo da história portuguesa em Manhattan.”