A docuficção e a 'arthouse' com elementos de terror são duas das sensações alternativas do momento e o quarto dia do IndieLisboa traz exemplares de ambas as tendências. É para uma destas diretrizes que aponta a Maratona da Boca do Inferno, uma sessão ininterrupta de seis horas e meia no cinema Ideal a partir da meia-noite. A ênfase vai para o cinema com toques de horror, gore e algumas excentricidades…

No caso da competição internacional de longas-metragens, esta avança com dois filmes realizados e protagonizados por mulheres.

Um deles é o brasileiro “Mate-me por Favor”, primeira longa-metragem de Anita Rocha da Silveira, cujo elenco de adolescentes femininas venceu um prémio coletivo no Festival de Veneza. O filme traz uma grande mistura de elementos para contar uma história cuja base social é a classe média do Rio de Janeiro.

É onde vive a adolescente vivida por Valentina Herszage, às voltas com a chegada a vida adulta e as peripécias de um assassino em série nas redondezas. Pelo meio há 'funk' à moda carioca e a febre evangélica que assola o país, mas é na aposta do sexo e da morte que o filme se singulariza, onde o sangue e o vermelho fazem o contraponto simbólico de um processo de 'coming-of-age' particularmente perturbado.

A questão dos géneros

“Baden Baden”, por sua vez, traz uma proposta completamente diversa: o objetivo expresso da realizadora francesa Rachel Lang foi uma criar uma personagem feminina (vivida por Salomé Richard) despida de todos os códigos associados às mulheres – entre os quais os de objetos passivos de desejo. Assim a sua protagonista relaciona-se com os homens de uma forma naturalista e ativa.

Curiosamente, esse princípio assente no direito de afirmação sexual das mulheres aparece dessexualizado pois, segundo Lang, o objetivo final é de cunho existencial – que passa por eliminar as diferenças de género.

A América dos deserdados

Mas eventualmente a proposta mais estimulante do dia vem de Roberto Minervini e o seu “Lousiana – The Other Side”, onde ele mostra uma capacidade surpreendente de se reinventar fazendo rigorosamente o mesmo.

Por outras palavras, o realizador italiano radicado nos Estados Unidos traz novamente algo no limite entre o documentário e a ficção, onde a ligação mais direta se dá com a sua primeira longa-metragem, “Low Tide”.

O filme é uma espécie de imersão na vida dos marginalizados, com algumas cenas chocantes e um ambiente geral de desolação entre viciados em drogas, veteranos sem referências, adolescentes sem futuro – uma América convulsa e distante dos mitos que costuma vender ao resto do mundo.

Cinema português

 O primeiro filme português apresentado no IndieLisboa é a sessão especial de “Volta à Terra”, onde o veterano realizador João Mário Grilo aborda o trabalho do arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles – criador, entre outros projetos, do jardim da Gulbenkian.