A Academia Brasileira de Cinema escolheu na segunda-feira "Marte um", do realizador Gabriel Martins, premiado em São Francisco, como concorrente à nomeação pelo Óscar de Melhor Filme Internacional em 2023.

O filme, que trata dos sonhos utópicos de um menino no meio das contradições da sua família e das dificuldades económicas e políticas do Brasil, estreou-se em janeiro de 2022 nos festivais de Sundance e Toulouse, já passou por 35 festivais e foi premiado em três deles (OutFest, Black Star e San Francisco Film Festival).

A produção só foi lançada nos cinemas brasileiros em agosto, depois de se tornar uma das mais premiadas do Festival de Gramado, principal evento de cinema no Brasil, onde foi escolhida como melhor filme pelo júri popular e pelo júri especial, além de receber o prémio de melhor argumento.

O filme foi selecionado pelos 25 membros de uma comissão independente criada pela Academia Brasileira de Cinema como aquele que vai representar o país na disputa para ser um dos cinco nomeados ao Óscar na categoria Melhor Filme Internacional, que será entregue na 95.ª edição dos galardões, em março de 2023.

“O filme é sobre afeto e esperança, sobre a possibilidade de continuar sonhando em meio a tantas dificuldades”, disse a presidente da comissão de seleção, Bárbara Cariry.

A longa-metragem "Marte um" prevaleceu sobre os outros cinco que aspiravam a ser indicados ao Óscar pelo Brasil: "A mãe", de Cristiano Burlan, "A viagem de Pedro", de Laís Bodanzky, "Carvão", de Carolina Markowicz, "Pacificado", de Paxton Winters, e "Paloma", de Marcelo Gomes.

Esta é a primeira produção a solo de Martins, cujo primeiro filme, "No coração do mundo" (2019), foi codirigido com Maurilio Martins.

O filme "Marte um" conta a história de um menino que mora na periferia da cidade brasileira de Belo Horizonte e cujo pai o vê como um futuro astro do futebol que vai ajudar a família a sair da pobreza.

O mais novo, porém, só pensa em seguir o seu sonho de se tornar astrónomo e participar numa suposta missão colonizadora que será lançada a Marte em 2030.

No entanto, os seus sonhos soam utópicos num Brasil onde a extrema-direita acaba de chegar ao poder e com o protagonista enfrentando as dificuldades económicas de uma família negra e periférica em que o pai vive como porteiro num prédio rico, a mãe sofre problemas mentais após ser vítima de um drama e a irmã quer sair de casa para morar com a namorada, mas sem aceitar a sua homossexualidade.

A última vez que um filme brasileiro foi nomeado para os prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood foi em 1999, com "Central do Brasil", quando a intérprete Fernanda Montenegro também foi indicada ao prémio de melhor atriz.