Numa grande noite para as mulheres, o filme romeno "Blue Moon" ("Crai Nou"), o primeiro filme da realizadora Alina Grigore, consagrou-se este sábado (25) como a melhor longa-metragem do Festival de Cinema de San Sebastián.
O filme, que narra a fuga de uma jovem de uma família disfuncional, competia na Secção Oficial com filmes considerados fortes candidatos à Concha de Ouro, como "Maixabel", de Icíar Bollaín; "Benediction", de Terence Davies e "Arthur Rambo", de Laurent Cantet.
No total, competiam na secção principal 16 filmes, dois deles latino-americanos e quatro espanhóis.
"Não esperava", disse, emocionada, Alina Grigore, realizadora e atriz de 36 anos, ao receber o seu prémio na cerimónia celebrada no Kursaal, o centro de convenções da cidade, no norte da Espanha.
Grigore, que conquistou a primeira Concha de Ouro para a Roménia, agradeceu a "todas aquelas mulheres e homens que nos deram a oportunidade de levar a nossa mensagem tão longe".
Melhor realização e interpretação
O júri da 69.ª edição da mostra, presidida pela realizadora georgiana Dea Kulumbegashvili, concedeu a Concha de Prata de Melhor Realização à dinamarquesa Tea Lindeburg por "As in Heaven", seu primeiro longa.
"Nunca ganhei nada na minha vida e conquistar este troféu é uma loucura", disse Lindeburg, que assinou um filme ambientado no fim do século XIX sobre uma adolescente cuja vida muda quando a sua mãe tem um parto que acaba em tragédia.
Flora Ofelia Hofmann Lindahl, a jovem dinamarquesa protagonista de "As In Heaven", ganhou a Concha de Prata de Melhor Interpretação, um prémio que dividiu com a atriz americana Jessica Chastain, por "The Eyes of Tammy Faye".
Este ano foi a primeira vez que San Sebastián atribuiu um prémio à melhor interpretação sem diferenciar o género, e as duas mulheres receberam-no em igualdade de mérito.
"Espero que este filme nos ensine a olhar para além das nossas primeiras impressões", disse Chastain, que em "The Eyes Of Tammy Faye" encarna a televangelista evangélica Tammy Faye Bakker, uma figura polémica que foi muito parodiada em programas de comédia na televisão americana.
Chastain, duas vezes nomeada para os Óscares, decidiu fazer este filme quando assistiu a um documentário que mostrava uma face mais humana da televangelista.
Grande noite de Tatiana Huezo
Considerado um trampolim do cinema latino-americano na Europa, o festival atribuiu o prémio de melhor filme da região a "Noche de fuego", da realizadora salvadorenha-mexicana Tatiana Huezo.
O filme, que aborda a violência contra as mulheres numa zona rural do México, competia na secção Horizontes com outras nove produções ou coproduções da Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Chile, México, Panamá e Uruguai.
"Tomara que o cinema nos devolva o olhar para as nossas infâncias, para as nossas raparigas, tomara que nos faça olhar para elas, para as raparigas que fomos, para as que somos hoje e as que estão por vir porque nos queremos vivas", afirmou Huezo.
Ambientada nas montanhas do estado de Guerrero (sul do México), onde as raparigas brincam enquanto as suas mães tentam evitar que sejam sequestradas, o filme ganhou outros dois prémios na noite: o de Cooperação Espanhola e o de Radiotelevisão Espanhola (RTVE) Outro olhar.
"Noche de fuego" tinha recebido a Menção Especial na secção Um Certo Olhar do Festival de Cannes.
Com a cerimónia de prémios encerrou-se esta edição do festival, que exibiu mais de 170 filmes com restrições, com público reduzido nas salas e máscaras obrigatórias, devido à pandemia da COVID-10.
Este ano foram entregues prémios honorários Donostia, com os quais a mostra reconhece a contribuição ao cinema de grandes personalidades. Um deles foi para a atriz francesa Marion Cotillard.
O outro foi para Johnny Depp, uma decisão criticada por associações de mulheres cineastas pelo facto de o ator americano ter estado vinculado com um caso de violência conjugal que o levou aos tribunais e prejudicou a sua imagem, embora nunca tenha sido condenado.
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