As canções de António Variações, incluindo uma inédita, vão ser recordadas esta semana no festival Nos Alive (Algés), numa celebração que se prolongará pelos próximos meses, com um filme sobre o músico e uma possível digressão pelo país.
A 22 de agosto estreia-se nos cinemas o filme de ficção "Variações", de João Maia, inspirado na vida do barbeiro minhoto que desejou viver da música, que em Lisboa se transformou em António Variações e marcou a música portuguesa a partir dos anos 1980.
O filme é protagonizado pelo ator Sérgio Praia que, além da interpretação física do músico, também canta todas as canções, recriando as sessões de composição e gravação embrionária dos temas em várias cassetes - sozinho em casa com um gravador e uma caixa de ritmos - até à primeira atuação de Variações na discoteca Trumps, em 1981, em Lisboa.
"A prestação do Sérgio foi tão convincente que quisemos transpor o que aconteceu no ecrã para os palcos. É um António que nunca ninguém conheceu, antes de ele editar qualquer disco", afirmou à agência Lusa o músico e produtor Armando Teixeira, num dos ensaios para a estreia no festival Nos Alive.
Em palco, Sérgio Praia estará acompanhado por Armando Teixeira (sintetizador) e pelos músicos Vasco Duarte (guitarra), David Santos (baixo) e Duarte Cabaça (bateria).
"Eu sei que houve alguns concertos [de António Variações] que eram mais animados, mas a grande maioria não era assim tão feliz. Queríamos celebrar no Nos Alive e trazer cá para fora toda a energia e a alegria que ele merece", afirmou Sérgio Praia à agência Lusa.
Depois da estreia no festival, Sérgio Praia e Armando Teixeira explicaram que há planos para apresentar o espectáculo noutros palcos do país, ainda em datas a anunciar.
O alinhamento inclui temas mais conhecidos de Variações, como "O corpo é que paga", mas a intenção é mostrar canções menos populares do músico e com arranjos próximos daquilo que ele imaginou na época dos primeiros ensaios.
"Vai ser uma versão adaptada àquilo que os músicos que tocavam com o António faziam na altura. Eram músicos muito influenciados pelo 'prog rock', foi ali na altura do punk. (...) Fizemos versões a imaginar como seria a banda, quais as bandas que [Variações] gostaria de tocar na altura, Roxy Music, David Bowie, Iggy Pop, ter o Brian Eno a produzi-lo ou o Tony Visconti", explicou Armando Teixeira.
O músico e produtor, que assina a direção musical do filme, teve acesso às cassetes que António Variações deixou com dezenas de canções, excertos, ensaios, experimentações; as mesmas cassetes que foram recuperadas para o projeto Humanos, em 2004, e das quais é agora retirado um tema inédito, intitulado "Quero dar nas vistas".
Segundo Armando Teixeira, esta era uma música "que nunca ninguém achou que era uma verdadeira canção. Não tinha aquele cariz pop que as outras têm" e nas cassetes estão gravados apenas excertos agora completados.
Por isso, Armando Teixeira e Sérgio Praia fazem questão de sublinhar que o filme, o álbum-banda sonora e agora os concertos são "um documento" que tenta ser fiel àquilo que foi o período de vida de António Variações antes do sucesso e para lá da imagem "histriónica" que os portugueses têm dele.
Em palco, nos concertos, o ator encarnará a personagem, mas explica que não quer confundir o público, para que perceba que é ele, Sérgio Praia, que está ali. Além disso, acrescentou Armando Teixeira, vai ser possível ouvir excertos das gravações originais de António Variações.
Numa altura em que se cumprem 35 anos da morte de António Variações - a 13 de junho de 1984, aos 39 anos -, Sérgio Praia reforça a ideia de celebração e da importância da escrita para entender o artista.
"É nas letras que está o grande tesouro. As letras e a simplicidade fazem com que aquilo seja universal e toque todas as idades", disse.
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