Aos 38 anos, a atriz, realizadora e argumentista canadiana Sarah Polley tem já uma longa carreira, que começou como atriz quando ainda não tinha seis anos e inclui filmes como "A Fantástica Aventura do Barão", "Exótica", "O Futuro Radioso", "eXistenZ", "Go" e "Splice - Mutante", antes de fazer uma transição para trás das câmaras como a realizadora de "Longe Dela" e "Notas de Amor" e "Histórias que Contamos".

Agora surge como a argumentista e produtora da ainda inédita e muito aguardada minissérie"Alias Grace", baseada numa obra de Margaret Atwood, a mesma escritora de "The Handmaid’s Tale", um dos grandes fenómenos televisivos da atualidade.

Numa entrevista ao Now Toronto, a veterana da indústria afirmou que o assédio sexual é "uma experiência diária" no ambiente de rodagem dos filmes e as mulheres são forçadas a adaptar-se à cultura sexista do trabalho.

Polley dá o exemplo de algo que lhe aconteceu aos nove anos, quando ouviu um operador de câmara fazer comentários incrivelmente sexistas e lhe disse "Fazes-me realmente odiar os homens".

Ele respondeu: "Não vais estar a dizer isso quando tiveres 40 e teias de aranha na tua caixa".

Mais tarde, uma mulher veio ter com ela em lágrimas e pediu-lhe para não dizer nada porque o operador iria descarregar a sua fúria noutras funcionárias.

Esta história, garante logo a seguir, é menor e outras são horríveis, tanto de assédio como de ataques, só que não são apenas dela para ter o direito de as contar: "Existem coisas de fazer gelar o sangue. E as mulheres apenas tiveram de aguentar".

"Existe um milhão de coisas que nos ensinam para pensar que isto é normal e consensual, o que absolutamente não é o caso. Leva muitos anos até se ter palavras para isso, ser capaz de dar o nome a algo. 'Não desejado', 'Assédio', 'Não consensual' são palavras que levam muito tempo a atribuir à experiência que se está a ter. A maioria das pessoas pensa que, a bem da arte ou do futuro da produção, a humanidade de alguém, a consciência, disponibilidade ou consentimento vêm em segundo lugar", afirma.

Sarah Polley diz que foi uma "treta" o choque de Hollywood o ano passado à velha história de que o realizador Bernardo Bertolucci e o ator Marlon Brando conspiraram para surpreender a atriz Maria Schneider ao usar manteiga na rodagem da cena de sexo em "O Último Tango em Paris" (1972), insistindo que qualquer pessoa que trabalhe na indústria não se surpreenderia com a história de um grande realizador e um ator brilhante esperarem que uma atriz se sujeite a ser humilhada: faz parte do "ofício".

"Existe tanto medo de não ser capaz de aguentar o ambiente da rodagem de um filme. Existe uma verdadeira cultura de machismo, mesmo entre as mulheres, em que não se quer ser a pessoa a chorar ou a queixar-se. Isso carrega o seu próprio estigma", garante.

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