Pedro Almodóvar recusou as propostas das plataformas de streaming para o seu próximo filme.

Com rodagem prevista para arrancar em março de 2021, "Madres Paralelas" [Mães Paralelas] será o encontro do mais conhecido realizador espanhol com Penélope Cruz, uma das suas atrizes preferidas.

A decisão é tomada contra a corrente, reconheceu o irmão Agustin Almodóvar e co-fundador da produtora El Deseo numa entrevista à publicação especializada Screen Daily onde concorda com o impacto duradoiro da mudança de hábitos dos espectadores em 2020 por causa da pandemia.

"Tudo o que tem a ver com streaming de conteúdos de ficção disparou. A visualização dos nossos filmes na plataforma VoD espanhola Filmin triplicou, por exemplo", explicou.

"Mas claro que para aqueles de nós que amam ver filmes no grande ecrã, estes são tempos preocupantes, pois a ameaça da fragmentação da janela do cinema aproxima-se cada vez mais", acrescentou, referindo-se ao período de tempo em que os filmes são exclusivos das salas de cinema, normalmente entre 75 a 90 dias.

"No entanto, achamos que se deve lutar pela exibição nos cinemas. Como somos da velha escola, estamos a planear que o próximo filme do Pedro seja para o circuito dos cinemas apesar das várias propostas para que fosse conteúdo original das plataformas de streaming", revelou.

A história escrita durante a pandemia de "Madres Paralelas" vai passar-se em Madrid e anda à volta "da vida das duas mulheres que dão à luz no mesmo dia e que têm trajetórias paralelas, daí o título", explicou Pedro Almodóvar no final de junho ao jornal El País.

A rejeição do streaming não é uma completa surpresa: Almodóvar foi um dos mais de 500 cineastas que, no final de outubro, subscreveram uma carta aberta a exigir novas regras para as plataformas estabelecidas na lei de todos os países da União Europeia.

Até ao final de janeiro, os Estados-membros têm de implementar uma diretiva europeia de 2018 que regulamenta a atividade dos serviços de televisão, streaming e VOD (video on demand), que obriga as plataformas a investirem uma parte das suas receitas em produções locais, mas deixa a cada país decidir qual a modalidade.

Em maio de 2017, quando presidiu ao júri do Festival de Cinema de Cannes, Almodóvar também lançou a polémica ao dizer que "seria um enorme paradoxo que uma Palma de Ouro (...) ou qualquer outro filme premiado não pudesse ser visto em salas" de cinema, acrescentando que as plataformas em streaming deviam "aceitar as regras do jogo", respeitando "as distintas formas de exibição e as obrigações de investimento que atualmente regem a Europa".

O mais recente trabalho de Almodóvar chama-se "A Voz Humana" e é o seu primeiro trabalho em inglês e que tem Tilda Swinton: a curta-metragem aguarda nova data de estreia após ter sido cancelada a de 3 de dezembro por causa das medidas de confinamento relacionadas com a pandemia.

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