Costuma dizer-se que os romances policiais de Agatha Christie apenas perdem para William Shakespeare e a Bíblia entre os mais publicados no mundo, mas a nova versão de "Um Crime no Expresso do Oriente", um dos seus trabalhos mais famosos, é a primeira grande adaptação a chegar às salas de cinemas desde 1988.

Não é que os fãs da escritora inglesa tenham razões de queixa já que a televisão soube ocupar o vazio: para além de várias produções sobre o popular velhinha da aldeia Miss Marple, foi possível ver um superlativo David Suchet na também aclamada série "Poirot", que adaptou todas as histórias em que entrava o célebre detetive belga entre 1990 e 2013.

É esse excêntrico, talvez a maior criação de Agatha Christie, que regressa agora ao cinema, interpretado por Kenneth Branagh com um bigode que merece um destaque à parte e uma parada de estrelas como suspeitos: são Michelle Pfeiffer, Johnny Depp, Judi Dench, Penélope Cruz, Willem Dafoe, Josh Gad e Daisy Ridley.

Aconteceu o mesmo em 1974, o ano de outro "Um Crime no Expresso do Oriente", um gigantesco sucesso de bilheteira célebre pelo elenco ainda maior de talentos: ao lado de Albert Finney como Poirot, estavam Lauren Bacall, Sean Connery, John Gielgud, Vanessa Redgrave, Michael York, Jacqueline Bisset, Anthony Perkins e Wendy Hiller, além de Ingrid Bergman, que ganhou o Óscar de Atriz Secundária.

Segundo o marido, Agatha Christie sempre foi "alérgica" às adaptações que o cinema fez dos seus romances e não faltaram tentativas para lhe agradar: 23 das 39 foram feitas entre 1928, ano de "The Passing of Mr. Quin", e a sua morte em 1976.

Enquanto não sai o "veredicto" em relação ao novo filme, os fãs de Agatha Christie e do cinema tem três títulos realmente incontornáveis a não perder: "A Vivenda Trágica" (1937), um "thriller" a partir do conto "Philomel Cottage", com Ann Harding e Basil Rathbone; "Convite para a Morte" (1945), com atores do calibre de Barry Fitzgerald, Walter Huston e Roland Young, além de René Clair na realização; e principalmente "Testemunha de Acusação" (1957), de Billy Wilder e com Charles Laughton, Tyrone Power e Marlene Dietrich, nomeado para vários Óscares.

Há também quatro filmes com Margaret Rutherford como Miss Marple que tiveram grande popularidade, ainda que a escritora tenha ficado bastante zangada com as liberdades criativas e a caricatura cómica da personagem de que mais gostava: "O Estranho Caso da Velha Curiosa" (1961), "A Velha Descobre o Crime" (1963, adaptação de "Os Abutres"), "A Velha Investiga" (1964, a partir do livro "Poirot contra a Evidência") e "O Regresso da Velha Curiosa" (1964, sem ter por base qualquer livro).

O sucesso de "Um Crime no Expresso do Oriente" em 1974 e a morte da escritora renovaram o interesse pelas suas obras, com adaptações razoáveis de "Morte no Nilo" (1978), "Morte ao Sol" (1982) e "Morte Entre as Ruínas" (1988), todas com Peter Ustinov como Poirot, que ainda fez mais três telefilmes: "A Noite de Lord Edgware" (1985), "Poirot e o Jogo Macabro" (1986) e "Tragédia em Três Actos" (1986).

Angela Lansbury foi também Miss Marple em "Espelho Quebrado" (1980), experiência que admitiu anos mais tarde ter adorado apesar de achar o filme "horroroso".