Há sete anos, este fã de «28 Dias Depois» e «28 Semanas Depois» ia apresentar uma série de sua autoria à Warner, um apocalipse zombie intitulado «Death Valley», mas o projecto ficou na gaveta quando, uma semana antes da apresentação, Frank Darabont vendeu «The Walking Dead» à AMC.
Esta série afasta-se desse já clássico pois é menos violenta e inclina-se para o policial e a comédia, mesclada com um drama ligeiro, é direcionada para os jovens adultos, ainda que não deixe de ser menos inteligente na sua abordagem, distanciando-se de algumas produções YA (young adult) adaptadas às três pancadas no cinema e na televisão.
A heroína desta série é Liv Moore (Rose McIver), uma médica estagiária que estava noiva do homem dos seus sonhos. Tudo corria às mil maravilhas até ser mordida num inexplicável ataque zombie na pior festa de barco do mundo. Cinco meses depois, Lizzie está pálida e com o cabelo branco (nada de carne em decomposição e grunhidos estranhos), únicos traços visíveis da sua condição: ela é perfeitamente funcional ainda que com um apetite insaciável por miolos.
A sua dieta é obrigatória: se não come, fica com mau humor, mas mesmo esfomeada por carne humana tem receio de ficar um zombie a la George Romero. A única pessoa que sabe da sua condição de zombie funcional é Ravi (Rahul Kohli), um ex-investigador do centro do controlo de doenças contagiosas que vive em êxtase porque tem à sua frente uma cobaia viva de uma doença que pensava ser um objeto de ficção, possibilitando o estudo e a resolução do problema de Liv.
A personagem principal é adorável e não anda propriamente a trincar pessoas e a arrancar cabeças, mas perdeu o propósito de vida. Liv afasta-se do noivo, abandona o internato de Medicina no hospital e começa a trabalhar numa morgue, onde pode comer todos os miolos que desejar. Ela era apaixonada e ambiciosa, mas descobre que já havia partes dela que estavam “mortas” antes mesmo de se transformar.
A sua vida é um caos até se aperceber que pode utilizar o seu poder para ajudar o próximo pois quando come os miolos dos corpos da morgue, normalmente em saladas frias com muito picante, tem acesso às memórias das vítimas e adquire igualmente os seus traços comportamentais. Esta habilidade permite-lhe ajudar o detective de homicídios Clive Babineaux (Malcolm Goodwin), que pensa que Liv é uma médium, na solução dos crimes que levaram os corpos até à morgue. A série tem uma visão “científica” dos zombies que são infectados por um vírus e não estão propriamente em câmara lenta e a cair aos bocados.
O factor que faz diferença no sucesso desta série passa não só pela criação de Rob Thomas e Diane Ruggiero (outra veterana de «Veronica Mars»), que ao encontrarem o ritmo e a fórmula de entretenimento levam-nos aos melhores momentos de objetos marcantes como «Buffy – A Caçadora de Vampiros» e «Veronica Mars», mas também contarem com uma actriz à altura da sua criação: a neozelandesa Rose McIver é um mimo com a sua “genica” e presença eletrizante. A atriz cria empatia com o drama existencial através da narração ativa, estabelecendo intimidade com o espectador.
Na primeira temporada podemos aguardar pelo caso da semana e está prometido um investimento nos arcos narrativos com a mitologia em torno da transformação de Liv numa série produzida para Warner Bros Television.
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