"É uma loucura o que está a acontecer, não é?", disse à AFP Armando Bo, criador da série da Amazon Prime. "Não é apenas a Fifa... o escândalo de corrupção foi tão grande que o FBI quis fazer seu papel. Todo o mundo queria fazer parte disso, muitas mãos neste negócio gigantesco", acrescentou.

O pagamento de subornos e comissões de 150 milhões de dólares abalou o mundo do futebol em 2015, levando à prisão de dezenas de executivos do futebol, muitos deles latino-americanos, assim como à queda do presidente da Fifa, Joseph Blatter. 

"El Presidente" conta a história através dos olhos de Sergio Jadue, um jovem chileno que, sem esperar por nada, passou da liderança do humilde clube La Calera à presidência da Associação Nacional de Futebol Profissional (ANFP) e vice-presidência da Conmebol.

Uma "máfia mais difícil"

Jadue, interpretado pelo colombiano Andrés Parra ("Pablo Escobar, o Senhor do Tráfico", "El Comandante"), é um personagem ingénua, mas ambiciosa, ao mesmo tempo, que acaba envolvido numa rede internacional de suborno, fraude e até violência e faz lembrar o bem sucedido drama da Netflix "Narcos".

"Acho que é diferente, o futebol das drogas... para mim o grande desafio foi que não havia tanto sangue", disse Bo, que ganhou um Óscar por co-escrever "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)", em 2014.

"Este tipo de máfia é mais difícil. Em 'Narcos' podes matar toda a gente e é isso, é real. Aqui, as pessoas não morreram... não muitas", explica.

A Amazon espera que "El Presidente" - coproduzido pela Gaumont, a mesma empresa francesa por trás de "Narcos" - atraia a mesma atenção global da série da Netflix.

Indo de país em país e seguindo um agente secreto dos Estados Unidos que localizou Jadue e seus co-conspiradores, a série é "local, mas também muito significativa em todos os países", disse Bo.

"E é uma era em que as legendas (em inglês) são permitidas, certo?", acrescentou o argentino, que fez a série quase toda em espanhol.  "Estamos a ver conteúdo internacional nos mercados dos EUA, depois de 'Narcos', 'Parasitas' ou 'Roma'", continuou. "Estamos a ver que as histórias precisam ser contadas no idioma em que são mais naturais, mais reais, mais verosímil", acrescentou.

"Copa dos negócios"

Bo, um fanático por futebol e que adora Lionel Messi, admite que pode ser doloroso ver nos bastidores a corrupção desenfreada e a ambição no mundo do desporto mais popular do planeta.

A personagem do presidente da Associação Argentina de Futebol (AFA), Julio Grondona (Luis Margani), revela o grande contraste entre a paixão não adulterada dos adeptos pelo "Mundial que as pessoas assistem" e o verdadeiro "campeonato dos negócios", uma caixa eletrónico inigualável para quem mexe os pauzinhos.

A Campeonato do Mundo da FIFA 2014  no Brasil e a histórica vitória do Chile na Copa América no seu próprio país no ano seguinte estão em segundo plano nesta história de acordos sujos de direitos televisivos.

Mas no momento em que o mundo está confinado, o sucesso de programas como o documentário de Michael Jordan, "The Last Dance", demonstra o grande apetite pelas histórias por trás de famosos dramas desportivos do passado, disse Bo.

"Estamos a experimentar tantas coisas que precisamos de nos questionar como sociedade", disse. "Mas sou um grande fã de desporto e, quando eles voltarem, estarei lá a assistir".