A Netflix enfrenta um grande desafio à medida que se expande para o mundo dos jogos, procurando reter a atenção dos seus clientes num mundo cada vez mais competitivo do streaming.
A líder do setor forneceu detalhes sobre os seus planos para dar um peso muito maior aos jogos.
Os analistas afirmam que a decisão da Netflix tem como objetivo oferecer novos tipos de conteúdo.
"As marcas de entretenimento e tecnologia estão a adicionar jogos porque são adjacentes aos seus produtos de vídeo. Os jogos são uma extensão, algo natural do que já fazem", disse o analista do eMarketer, Ross Benes.
"Adicionar jogos permite absorver mais tempo das pessoas e integrar-se mais nos hábitos diários dos seus clientes", acrescentou.
Benes acredita que os jogos darão aos clientes maior impulso para continuarem com o serviço, mas é pouco provável que aumentem significativamente as subscrições.
Gene Munster, gerente sócio da Loup Ventures, classificou a ação da Netflix como um "movimento inteligente para reter e aumentar as subscrições pagas" e destacou que há quase 2 mil milhões de jogadores em todo o mundo.
Por outro lado, Michael Pachter, analista do Wedbush Securities, estima que a iniciativa da Netflix terá impacto "zero" no mundo dos jogos.
"Consideramos a incursão nos jogos como um reconhecimento por parte dos gestores de que o conteúdo de vídeo flui mais lentamente, com custos de conteúdo em constante aumento", afirmou Pachter numa nota aos investidores.
"Também vemos os jogos como um 'objeto novo e brilhante' que poderiam distrair os investidores do que vemos como uma desaceleração do crescimento da Netflix".
O diretor de produtos da Netflix, Greg Peters, afirmou que entrar no mundo dos jogos será um esforço de vários anos e que a empresa começará aos poucos.
"Realmente vemos isso como uma extensão da oferta principal de entretenimento na qual estamos focados durante os últimos 20 anos", disse Peters.
"Vamos testar uma grande quantidade de jogos através de uma variedade de mecanismos diferentes para ver o que realmente funciona para os nossos membros".
Os executivos da Netflix disseram que vão aproveitar os pontos fortes dos programas para criar mundos de fantasia interativos para os fãs e que estão a falar com os fabricantes de jogos sobre acordos de licença.
Cemitério de gigantes
A plataforma acrescentou que os jogos serão incluídos na subscrição do serviço sem custo adicional.
A empresa já se aventurou nos jogos anteriormente, lançando um episódio interativo - "Bandersnatch" - da série "Black Mirror" e também um jogo de telemóvel gratuito como "spin-off" da sua série de sucesso "Stranger Things".
"Isso atrairá pouco jogadores e [a Netflix] não terá uma propriedade intelectual convincente que lhe permita criar jogos atrativos", analisou Pachter.
"O cemitério de negócios está repleto de cadáveres de empresas de conteúdo que fracassaram na criação de jogos móveis. A Disney foi quem mais se destacou" nesse cenário.
Até veteranos da indústria dos jogos fracassaram com jogos para telemóvel e tablet.
Os jogos de sucesso inspirados por programas de televisão são raros, assim como os baseados em filmes, o que provoca uma pergunta: qual seria o motivo para que a Netflix acredite que poderá ter sucesso num setor onde 'players' mais eficientes fracassaram?
"A união da produção de vídeo de Hollywood e dos jogos baseados nesse conteúdo tem uma história problemática", lembrou o analista-chefe da Third Bridge, Joe McCormack, recordando que tanto a Disney como a NBCUniversal fecharam unidades de jogos.
"O facto de que a Netflix possa mudar esse destino parece impulsionado principalmente pelas diferenças culturais entre esses estúdios de Hollywood e os de jogos", acrescentou.
A concorrência na indústria dos jogos de telemóvel é intensa e se a Netflix quiser apresentar jogos mais sofisticados, deverá superar obstáculos tecnológicos.
Os jogos de qualidade de consola transmitidos da nuvem exigem ligações de Internet de alta velocidade para evitar atrasos e controladores que os jogadores podem usar para dominar a ação.
Nesse campo, a Netflix enfrentaria os serviços de jogos na nuvem já administrados pela Amazon, Google, Microsoft e Sony.
"Isso é algo complexo, acreditamos que a Netflix começou os seus esforços com ideias vastas demais", concluiu Pachter sobre os jogos na nuvem.
A Netflix aposta na sua forte criação de conteúdo e no aumento de subscritores do seu serviço com a adição de jogos, informaram executivos da empresa.
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