“Adoramos fazer experiências com as nossas canções. E aqui tivemos de as abordar de uma forma completamente diferente”, conta Dan Smith ao SAPO Mag numa entrevista virtual, ao recordar a preparação para o mais recente concerto "MTV Unplugged, que se estreia esta quinta-feira, às 22h45, na MTV Portugal (repete na sexta, às 9h45).
“Fizemos um álbum muito eletrónico e futurista, por isso foi muito divertido seguir um caminho na direção oposta, só com instrumentos acústicos: guitarras, piano, mandolins, violoncelos, baixo, sopros e voz, com tantas harmonias quanto possível. Foi uma oportunidade de sermos o mais minimalista que conseguíssemos”, explica o mentor, compositor e vocalista dos Bastille.
“Toquei guitarra acústica num concerto, pela primeira vez, com novos arranjos, por isso tive de aprender. Foi um desafio muito divertido. Foi uma bela oportunidade de revisitar canções dos nossos álbuns, mixtapes e EPs para mostrarmos um lado diferente, mais gentil e íntimo”, assinala sobre o espetáculo que decorreu no Porchester Hall, em Londres.
Dos Nirvana aos Fugees
“A marca MTV Unplugged é tão icónica e já passei por muitas das suas fases ao longo da vida. Lembro-me do concerto dos Nirvana em Nova Iorque, eram uma banda incrível no pico da popularidade. E a forma como transformaram as canções e as apresentaram a um novo público foi maravilhosa. Não deixou de ser vital nem excitante, apenas menos pesada”, salienta o britânico ao lembrar um dos seus concertos favoritos de uma das suas bandas de eleição. Mas houve outras atuações "MTV Unplugged" que o marcaram. “Já houve tantos e tão incríveis, dos Nirvana aos Cure ou Jay-Z. É uma grande marca temporal do momento em que estamos”, acrescenta.
“É um grande desafio para os artistas, obriga-nos a sermos criativos de uma forma diferente. Não quisemos só passar as canções para instrumentos acústicos, pensámos em formas novas, originais e belas de as tocar. E isso obriga-nos a encarar a composição, sobretudo nas canções mais antigas”, diz ainda.
Smith aponta que “tem havido muitos artistas acústicos maravilhosos nos últimos anos: Phoebe Bridgers, Bon Iver, Sufjan Stevens, Laura Marling... Sempre experimentámos muito com a produção, e geralmente isso traduz-se em música muito intensa e efusiva, em concertos pesados e agitados. Foi muito libertador restringirmo-nos a alguns instrumentos”.
Além de temas do quarteto londrino, a atuação inclui uma versão inédita de um clássico de Roberta Flack cuja fama disparou, em meados dos anos 1990, graças a uma versão dos Fugees. “Escolhemos a ‘Killing Me Softy’ porque era um bom pretexto para tocarmos ume versão que nunca tivéssemos tocado. Esse single dos Fugees foi o primeiro que tive, e o álbum deles, ‘The Score’, foi o primeiro álbum. Sou completamente obcecado por esse disco. Pareceu-nos uma escolha apropriada”.
Essa versão não foi a única que os Bastille apresentaram no concerto, embora o formato televisivo do espetáculo seja mais curto e a tenha deixado de fora, entre outras canções. “Também fizemos uma versão da 'Come as You Are', dos Nirvana, porque somos grandes fãs deles e também numa alusão ao MTV Unplugged. É uma canção tão brilhante e tão famosa, que quisemos fazer algo completamente diferente, ao piano, mais fantasmagórica. Se vais fazer uma versão, nem vale a pena tentares se não acrescentares alguma coisa”, defende.
“Toda a gente precisa de escapismo, seja qual for a sua forma”
Com edição prevista para 4 de fevereiro de 2022, “Give Me the Future”, o quarto álbum dos Bastille, é um momento de viragem na discografia da banda que se estreou num longa-duração com “Bad Blood”, em 2013.
“Encarámos este álbum como o início de uma nova era e quisemos colaborar com muita gente. Isso foi uma grande mudança para nós. E quisemos levar a sonoridade para outra direção, com inspirações da produção do Quincy Jones, 'Graceland', do Paul Simon, ou artistas como os Daft Punk ou Kavinsky, que fazem música mais futurista”, descreve Dan Smith ao SAPO Mag.
“O novo álbum é sobre a nossa relação com a tecnologia e com o futuro, e de como o futuro poderá ser. A pandemia mudou muito a nossa relação com os ecrãs e a tecnologia. Olhem para nós, a falar por Zoom. Por isso, quisemos criar um álbum humano e inspirador, mas cujas letras também abordam a forma prazerosa mas complicada como nos queremos entregar a realidades virtuais, à internet ou a filmes ou séries que vemos. É sobre escapismo, e julgo que toda a gente precisa de escapismo, seja qual for a sua forma”, avança.
“É uma viagem no tempo, para trás e para a frente, e quisemos refletir isso musicalmente. Cada batida é diferente do que fizemos antes. Há muitos efeitos eletrónicos na minha voz, tentámos que a música partisse da oposição entre humanidade e tecnologia, tal como as letras. Há muitos sintetizadores diferentes, é um álbum muito amplo, mas ao mesmo tempo tem apenas meia-hora de duração e é muito conciso tematicamente. E termina com um gospel futurista alucinado, cantado por mim e pelo Bim, um cantor e artista britânico fantástico”.
O ator Riz Ahmed (“Sound of Metal”) é outros dos convidados de um disco “sobre a estranheza dos tempos que estamos a viver, a incerteza quanto ao futuro mas também a importância de tentar imaginar algo melhor e fazer com que isso aconteça. E há muita gente por aí que faz isso dia e noite. Seja pelo planeta, pelo clima, pelo ativismo, há muitas pessoas espantosas a fazer tudo o que podem para que o mundo avance por um caminho um pouco melhor. E essas pessoas são muito inspiradoras! Mas também é um álbum muito divertido, com piscadelas de olho a 'Regresso ao Futuro', 'Matrix' e muita outra ficção científica do passado que faz parte das nossas vidas”.
Quem vir o concerto emitido esta quinta-feira, vai poder conhecer o que aí vem, garante Smith - ainda que num formato inevitavelmente acústico. “Tocámos algumas canções do novo álbum, e estão muito diferentes. Como 'Give Me the Future', que no álbum é pujante, propulsiva, com percussão forte, cordas, e foi ótimo reduzi-la ao essencial. Acho que damos mais atenção à letra quando as distrações não estão presentes”.
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