A série "Jesus: A Sua Vida", que chega ao Canal História esta segunda-feira às 22h55, explora a história de Jesus através de uma nova perspetiva, a das pessoas que foram mais próximas dele durante a sua vida. Cada um dos oito episódios é contado a partir do olhar de diferentes figuras bíblicas: José, João Batista, Maria, Caifás, Judas Iscariotes, Pôncio Pilatos, Maria Madalena e Pedro.
Cada figura guia os espectadores através da história de Jesus através do seu nascimento, morte e ressurreição, em formato de docudrama, que mistura cenas ficcionadas e entrevistas com especialistas religiosos e históricos.
O SAPO Mag esteve em Londres na apresentação da série e conversou com o elenco, os produtores e um dos especialistas que colaboraram na série.
"O que achei notável foi o facto de todos já termos visto séries sobre a vida de Jesus, mas nunca ninguém contou a história da forma que aqui é contada, pela perspetiva das pessoas comuns que conheceram Jesus em vida – através do olhar da sua mãe e do seu pai, do olhar dos líderes políticos da altura que o viam como uma ameaça. Achei que era um olhar notável sobre a sua vida e que mostrava Jesus não apenas como uma divindade, mas como um ser humano", explicou Mary Donahue, Vice-presidente de programação do Canal História.
"Ao contarmos a história de diferentes perspetivas, das outras personagens que rodeavam Jesus, há uma verdadeira oportunidade de tornar estas personagens icónicas muito mais tridimensionais e de compreender o seu mundo: de onde vêm, qual é a sua relação com a história, a história que eles próprios estão a descobrir", sublinhou ao SAPO Mag o produtor executivo Ben Goold.
Eu costumo dizer, lembrem-se que estas pessoas não sabiam que iam estar na Bíblia. São pessoas reais no seu contexto histórico, não sabem que vão aparecer na Bíblia e ser idolatradas.
"Eu costumo dizer, lembrem-se que estas pessoas não sabiam que iam estar na Bíblia. São pessoas reais no seu contexto histórico, não sabem que vão aparecer na Bíblia e ser idolatradas. São pessoas reais em circunstâncias extraordinárias. Isso é novo, de uma perspetiva histórica. Acho que a situação política com os romanos é muitas vezes esquecida e não é possível perceber a história de Jesus de forma correta sem perceber o contexto religioso e político daquela época e do Império Romano. É por isso que acho que a série vai interessar a toda a gente", acrescentou.
A série conta com a participação de estudiosos bíblicos, historiadores, líderes religiosos e teologistas, e conjuga os evangelhos canónicos, as fontes históricas e o contexto cultural para criar um retrato completo de Jesus – o Homem e o Messias.
Veja o trailer:
"Esta é a história mais célebre de todos os tempos, é uma história dos diabos em todos os sentidos. Há toda uma indústria de peritos em Jesus. O que acho que é muito original nesta série, como historiador, é que junta todas as perspetivas. Os atores parecem muito modernos e refrescantes, não parecem carregar o fardo de todas as pessoas que já interpretaram Jesus em filmes no passado. Há uma honestidade emocional nisso. Ao trabalhar neste projeto usámos todas as fontes: políticas, arqueológicas, culturais e, claro, as escrituras", disse Simon Sebag Montefiore, um dos especialistas que contribuíram na série.
Um elenco diversificado a interpretar personagens icónicas
Com vários retratos de Jesus na história do cinema e da TV, o ator Greg Barnett tinha em "Jesus: A Sua Vida" o desafio de dar a sua própria interpretação à personagem, como explicou ao SAPO Mag.
"Assim que consegui o papel decidi não voltar a ver outras interpretações de Jesus no cinema e na televisão. Não queria ser demasiado influenciado, apesar de terem havido retratos incríveis. Queria trazer a minha própria interpretação da personagem, tive de me distanciar da tentação de tentar agradar a toda a gente com o retrato que ia fazer de Jesus", disse o ator.
"Interpretar Jesus, é claro, não é tarefa fácil. Ele é a pessoa mais célebre da História. Foi um enorme desafio para abraçar e a minha abordagem foi encontrar a sua humanidade. Queríamos encontrar a sua luta entre ser o filho de Deus e descobrir o que isso significava para si próprio no mundo mas também a luta de ser um ser humano e ter emoções, o amor de uma mãe e de irmãos. Quis ir a essas raízes na minha abordagem, encontrar essa humanidade nele", explicou Greg Barnett.
Para a atriz Houda Echouafni, a quem coube o papel de Maria, não foi difícil identificar-se com a personagem: "ser uma santidade não é algo que um ator possa interpretar. Não é possível. Maria era mãe e eu conseguia identificar-me com isso. Consigo identificar-me com as emoções de uma mãe em relação ao filho, o amor, a generosidade. Depois, lentamente, começamos a juntar as peças. Mesmo fazendo toda a pesquisa possível, é preciso largar isso e viver a personagem no momento".
Também o ator Ramin Karimloo, que interpretou José, levou para personagem a sua experiência como pai: "acho que não foi assim tão difícil para mim porque havia uma bonita simplicidade no guião que nos foi dado. Para mim, interpretar José foi simples porque sou pai e coloquei-me na pele dele e segui a história que nos foi dada e isso funcionou na perfeição".
"Não tinha ideias pré-concebidas sobre José, não era algo que tivesse sido parte da minha vida, a Bíblia. Por isso gostei de aprender durante o processo e de humanizar a personagem. Acho que toda a gente consegue identificar-se com um homem que está a lutar pela sua família com compaixão, graça e sacrifício", disse ao SAPO Mag.
Com um elenco diversificado, para refletir a época e o local, "Jesus: A Sua Vida" escolheu um ator negro para o papel de Anjo Gabriel. "Lembro-me de ter ido à audição vestido de branco e de levar a ideia que todos temos na cabeça do que é uma figura divina ou um anjo. Lembro-me de ter saído e ter pensado que seria fantástico conseguir o papel. Acho que seria fantástico se continuássemos a ter mais diversidade e papéis como o do Anjo Gabriel acessíveis a todos, mesmo que não esperássemos ver um homem negro como eu no papel", recordou Anthony Kaye, que interpreta o anjo.
Jane Root, diretora do estúdio Nutopia e produtora executiva da série, lembra que "houve uma altura em que se falava do tempo de Jesus como se fosse inteiramente populado por caucasianos. Isso não era verdade".
A história, explica, "passa-se num local que congrega uma enorme variedade de etnias e é diversificado. Compreendemos agora, historicamente, que isso não era assim e por isso quisemos que a série tivesse diversidade".
Numa história que todos conhecem, um olhar diferente e rigoroso
A série demorou 13 meses a ser produzida - do guião à finalização - teve a sua porção dramatizada filmada em Marrocos e contou com a participação de especialistas históricos mas também religiosos, de várias fés.
"Quando começámos a trabalhar na série, havia uma grande responsabilidade para sermos historicamente rigorosos. Fomos muito cuidadosos na procura de informação e tivemos a sorte de trabalhar com historiadores maravilhosos. Também tínhamos um painel consultivo de líderes religiosos de todas as fés para termos a certeza de que eramos cuidadosos e não ofensivos", contou-nos Mary Donahue.
"É maravilhoso quando descobrimos as coisas com um tipo de detalhe que nos faz repensar acontecimentos de que julgávamos saber tudo. Aqui falámos com historiadores e representantes de várias religiões e juntar isso, essas perspetivas diferentes", acrescentou Jane Root.
Para o historiador Simon Sebag Montefiore, o que é especial neste formato é agregar pontos de vista divergentes de vários historiadores, que "não concordam em tudo", todos mostrados na série, e também explorar detalhes pouco abordados em produções deste género.
"Falei muito, por exemplo, da relação política entre os altos sacerdotes da aristocracia e as autoridades romanas. A maioria das pessoas também acha que só houve um rei Herodes mas, na verdade, houve cinco gerações de reis Herodes, todas personagens fascinantes e complexas porque estavam a tentar viver entre dois mundos: um romano helenístico e também serem reis judeus. Foi muito interessante para mim sublinhar isso", salientou o historiador.
"Toda a gente tem uma imagem desta história, incluindo eu, e acho que temos uma verdadeira responsabilidade de pensar muito cuidadosamente todos os aspetos da produção de uma perspetiva histórica e de rigor. Isto porque somos uma empresa factual, com o lado documental, mas também mostramos a perspetiva do amor que as pessoas têm a estas personagens. É preciso respeitar isso", explicou o produtor executivo Ben Goold ao SAPO Mag.
Os primeiros quatro episódios de "Jesus: A Sua Vida", são emitidos na noite desta segunda e terça-feira no Canal História, às 22h55. Os últimos episódios têm estreia marcada a 15 e 16 de abril, no mesmo horário.
O canal preparou também uma programação especial para celebrar a Semana Santa que, para além desta série sobre a vida de Jesus, conta com a emissão de “Paixão e Morte”, uma série documental onde vários especialistas de disciplinas muito diferentes fazem uma análise exaustiva da celebração do Cristianismo e com a VII edição de "A Última Ceia", uma produção onde conhecidos chefs portugueses recriam a ceia mais célebre da História. Este ano, o chef convidado é Rui Paula.
O SAPO Mag viajou a convite do Canal História.
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