"Pessoalmente, não quero ver séries muito pesadas ou negras nesta altura, quero abstrair-me", conta Poppy Montgomery em entrevista telefónica ao SAPO Mag. A atriz australiana assume o papel protagonista de "Reef Break", que estreia esta quinta-feira, às 22h20, na FOX Life, e admite que a proposta desta produção da ABC (em colaboração com o canal M6), estreada nos EUA e em França no verão passado, é a mais condizente com o que tipo de entretenimento que procura em dias limitados pela pandemia COVID-19.
"São umas férias divertidas na televisão cheias de surf e escapismo. Acho que é uma série ótima para o momento que estamos a viver, com muito stress no mundo", salienta. Criada por Ken Sanzel, que até aqui tinha sido produtor, realizador e argumentista de séries como "Núm3ros" ou "Blue Bloods", "Reef Break" é uma aposta criminal que não se leva muito a sério ambientada numa ilha paradisíaca do Pacífico, tendo muitas vezes a praia como cenário. Montgomery encarna Cat Chambers, surfista e ex-ladra que passa a trabalhar para o governador local enquanto tem de gerir uma vida amorosa atribulada, entre um ex-marido agente do FBI e um amante detetive.
Conhecida sobretudo pelo seus papéis de protagonista em "Sem Rasto" (2002-2009) e "Inesquecível" (2011-2016), a atriz tem reforçado a presença no pequeno ecrã desde os anos 1990. Nessa década, contou com pequenas participações em "Adultos à Força" ou "A Balada de Nova Iorque", e já neste milénio foi Marilyn Monroe na minissérie "Blonde" (2001) e J.K. Rowling no telefilme "Magic Beyond Words: The J.K. Rowling Story" (2011) - desempenhos que lhe valeram nomeações para prémios da Online Film & Television Association e dos Canadian Screen Awards, respetivamente. Mas a nova personagem é aquela com a qual mais se identifica, contou ao SAPO Mag:
SAPO Mag - O que podemos esperar de "Reef Break"?
Poppy Montgomery - É uma proposta muito leve, não se leva muito a sério. Tenho cinco filhos e tenho estado em casa com eles há cerca de cinco meses, por isso quero aproveitar todo o escapismo possível (risos). "Reef Break" é muito boa para isso, e ajuda-me a pensar que poderemos estar na praia a surfar em breve. Estas férias de verão vão ser muito diferentes para todos e esta é uma forma de nos ajudar a lidar com o facto de não podermos viajar ou de nos juntarmos tanto. A televisão e as redes sociais têm-nos permitido fugir a isso de alguma forma.
A realidade já é sombria o suficiente...
Sim, é. E nos EUA estamos a passar uma fase particularmente complicada, os nossos números de casos do novo coronavírus são dos mais elevados. Tem sido devastador a nível global. Por isso, aproveito tudo o que possa provocar um pequeno sorriso. Tem sido difícil e assustador.
Já teve vários papéis em televisão, incluindo como protagonista. Qual foi o maior desafio de uma personagem como Cat Chambers?
Foi a menos desafiante porque esta personagem é a que tem mais que ver com a minha personalidade. Adoro surf, adoro praia, adoro jet ski... A minha personagem é uma criminosa que ajuda a resolver crimes, não é uma agente da polícia ou do FBI como personagens que interpretei antes. A parte mais desafiante foram as cenas de surf e outras mais físicas, porque embora pratique surf não sou uma surfista especialmente boa. Gostava de ser, o meu sonho é ser uma boa surfista. Mas a maior parte dessas cenas foi feira por uma ótima dupla. Ainda assim tive muitas cenas aquáticas e o mar é muito imprevisível. Tanto podíamos estar na praia num dia com o céu azul como apanhar uma tempestade no dia a seguir. Mas foi sempre entusiasmante.
O que retém das experiências de "Sem Rasto" e "Inesquecível", às quais é geralmente mais associada?
"Inesquecível" foi uma série muito especial para mim, adorei fazê-la. Julgo que o que mais aprendi nessas séries foi habituar-me a fazer sequências muito dinâmicas, onde tinha de correr, saltar, lutar... Sou muito boa em cenas com ação, exceto nas de surf. Não me saio muito bem nessas. Mas habituei-me a cenas de ação coreografada e considero-me muito forte nessa vertente. E também retive alguma coisa de todas as personagens, que acabei por ir reaproveitando nos papéis seguintes.
Também foi J.K. Rowling num telefilme. Como é que olha para esse papel atípico no seu percurso?
Essa foi uma personagem muito singular para mim, e até tive de falar com sotaque britânico - e contei com um técnico que me preparou especialmente para isso. Os papéis de J.K. Rowling e de Marilyn Monroe foram semelhantes no facto de ambas essas mulheres virem do nada e se terem tornado ícones na suas áreas, depois de enfrentarem vários obstáculos. E tinham muito contra elas. Nesse sentido, foram percursos similares. A J.K. Rowling foi uma mulher que sofreu abusos do marido, era mãe solteira, tinha problemas de saúde, e ainda assim encontrou forma de escrever os seus livros. Marilyn Monroe era orfã, não tinha nada, e conseguiu tornar-se um dos maiores símbolos da era dourada de Hollywood. Fiquei sempre muito intrigada com a sua história e jornada.
Antes desses papéis ou do protagonismo em séries populares, começou por participar em "Adultos à Força" ou "A Balada de Nova Iorque" nos anos 1990. Como era fazer televisão nesses dias?
Foram experiências muito gratificantes. Em "Adultos à Força", interpretei uma das primeiras jovens lésbicas na televisão de sinal aberto. E naquela altura as coisas eram muito diferentes, não havia a representatividade que há hoje. Por isso, quando interpretei uma lésbica, foi algo muito controverso. Hoje, não o seria de todo. Em "A Balada de Nova Iorque" já nem me lembro bem que personagem encarnei. Acho que tinha infringido a lei ou assim (risos)... e fui interrogada. Foi divertido, era muito nova e estava a começar a carreira. A televisão era muito diferente nesses tempos. Acho que é melhor agora, porque tem muito mais representatividade. Naquela altura, a perspetiva das pessoas e do mundo era muito limitada.
Tem estado em casa com a família nos últimos meses. Como está a sua vida profissional neste tempo de pandemia?
Estou a participar em três séries. Uma é uma comédia sobre quatro mães, uma espécie de "O Sexo e a Cidade" para mães. É muito boa, muito divertida, e baseia-se em experiências minhas e de amigas minhas enquanto mães. Só que ainda não sei quando retomaremos as gravações. E gostava que houvesse uma segunda temporada da "Reef Break". Vamos ver como será a aceitação do público nos países onde será transmitida agora. A última palavra é sempre do público. Se ele não gostar, continuamos. Se não gostar, faremos algo novo (risos).
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