A história: Uma série documental de quatro partes que vai além de décadas de manchetes sensacionalistas para revelar a história privada de um dos mais conhecidos e falados escândalos de Hollywood: a acusação de abuso sexual contra Woody Allen que envolvia Dylan, a sua filha de então sete anos, fruto da relação com Mia Farrow, o julgamento de custódia subsequente, a revelação do relacionamento de Allen com a filha de Mia Farrow, Soon-Yi e as consequências controversas nos anos que se seguiram. Conhecidos pela sua parceria dentro e fora do ecrã, as vidas de Mia Farrow e Woody Allen foram irreversivelmente afetadas e a sua extensa família devastada com a divulgação pública das alegações de abuso e as disputas violentas que se seguiram.

"Allen V. Farrow": o primeiro dos quatro episódios do documentário fica disponível na HBO a partir de 22 de janeiro. Serão todos lançados à segunda-feira.


Classificação: 1 em 5

Crítica de Hugo Gomes

Não se espere com "Allen V. Farrow" um relato meticuloso ou aprofundado sobre o mediático caso que opôs Woody Allen e Mia Farrow a partir do alegado abuso sexual da filha Dylan por ele cometido a 4 de agosto de 1992.

O propósito do "documentário" de quatro episódios é posicionar-se de um dos lados e extrair dele a sua maior força: a emocional. Daí que ele se inicie com Dylan, a filha de ambos, exibindo o seu álbum de recortes fotográficos, e a câmara fixa nos seus dedos que, lentamente, viram as páginas do livro manualmente construído, dando conta das fotos retiradas.

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Este projeto de Kirky Dick e Amy Ziering, comprado pela HBO, é isso mesmo, um álbum de fotos retiradas. Na promoção do seu trabalho anterior sobre as violações decorridas num campus universitário (“The Hunting Ground”, 2015), afirmaram que não são e nunca pretenderam ser jornalistas, ou estarão do lado do agressor. Por isso, esperava-se e encontra-se agora uma investigação parcial (e, por vezes, facciosa), mas, pior do que isso, recheado de "maroscas" que o fazem constantemente tropeçar.

Tratando-se de uma série de apelo emocional, há um problema no seu processo de catarse: vestígios de manipulação.

Muitos encontram-se no retrato da própria Mia Farrow, "varrendo para debaixo do tapete" os seus próprios escândalos (que são do domínio público), tentando pintá-la como uma mãe extremosa (segundo o ensaio "A Son Speaks Out", de Moses Farrow, um dos seus 14 filhos, o quadro não era bem esse), ou nas gravações telefónicas entre Mia e Woody em que é impossível ouvir a posição do cineasta por causa de cortes abruptos, valorizando com isto o “choro” da atriz (aí está, o tal apelo emocional).

Já como crítico de cinema, é humilhante ver a análise à carreira do realizador no segundo episódio, dando-lhe um contexto para que encaixe na sua alegada perversão ou em mirabolantes teorias pedófilas. Para "provar" que os indícios estavam nos seus filmes são convocados críticos com discursos cheios de boçalidades. E no quarto episódio, Miriam Bale, jornalista do The Hollywood Reporter, chega a apelar ao boicote, a pretexto de que a visualização ou divulgação do seu trabalho serviria para fortalecer os que assumem a defesa do realizador.

O próprio Woody Allen e a esposa Soon-Yi Previn não responderam a pedidos de entrevista, o que é compreensível. Nem aparece Moses Farrow, "despachado" simplesmente como alguém problemático.

De Diane Keaton a Scarlett Johansson, de Alec Baldwin a Alan Alda, a dupla de realizadores também parece não ter achado que era necessário recolher depoimentos ou sequer citar personalidades públicas que têm defendido o cineasta. Pelo contrário, dedica-se de forma arrogante a ridicularizar a sua esposa ou a equipa de defesa (a sua porta-voz é descrita como se fosse o Diabo na Terra), enquanto ele é colado com cuspo a figuras como Kevin Spacey, Harvey Weinstein e Bill Cosby.

Deixando de lado todas as outras vozes, “Allen Vs. Farrow” é propaganda pura costurada com distorção ou omissão de factos para garantir que nada estraga a coerência da sua "narrativa". Está à (baixa) altura desta era das redes sociais mais dominadas pelas emoções do que pelas razões.

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