Novas informações sobre os bastidores da rodagem na cidade de Baltimore da série da Apple TV+ "Lady in the Lake" parecem indicar que muito do que foi noticiado sobre a alegada "ameaça de extorsão" que interrompeu a produção é exagerado ou mesmo falso.

As notícias tiveram impacto internacional e estão a afetar a imagem pública daquela cidade norte-americana.

Inicialmente, um jornal local, citando fontes da polícia, avançou que um grupo de "traficantes de droga" ameaçou a produção da série que tem Natalie Portman como protagonista por volta das quatro da tarde de sexta-feira, a brandir e a apontar uma arma, exigindo 50 mil dólares (e não 50 milhões, como avançou uma notícia em Portugal), ameaçando regressar ao início da noite e disparar em alguém se não parassem de filmar.

A "proposta" teria sido rejeitada pelos produtores, que decidiram parar os trabalhos e procurar um novo local para a rodagem das cenas.

Já no domingo à noite, a versão evoluiu com um comunicado do estúdio Endeavor Content: um motorista da produção fora confrontado por dois homens, um dos quais a brandir e a apontar-lhe uma arma, antes de partirem do local. Isto aconteceu ainda antes da hora marcada para a chegada da equipa e dos atores para a rodagem.

Na terça-feira, uma notícia da revista The Hollywood Reporter indica que também estas informações precisam corrigidas após a polícia de Baltimore ter examinado as imagens das câmaras de vigilância e recolhido os depoimentos das pessoas envolvidas.

Segundo um relatório da polícia obtido pela revista, um vendedor ambulante de roupas no local estava chateado por não ter sido compensado pela produção pela perda de negócio, já que não podia trabalhar enquanto a equipa estivesse a trabalhar. O depoimento apresenta a versão que terá conversado com um membro da equipa técnica da série e um responsável da segurança e estava à espera dos documentos para receber uma compensação pelos rendimentos perdidos.

Segundo a polícia, este vendedor acabou por ser detido por acusações relacionadas com narcóticos.

Um relatório anexo descreve versões divergentes que parecem indicar que um grupo estava a perturbar a produção, mas as "ameaças" que se tornaram notícia são exageradas ou imprecisas.

O membro da produção que inicialmente relatou o incidente alegou que uma pessoa brandiu uma arma aos trabalhadores, mas depois "recuou na sua declaração original" e indicou que um motorista tinha dito que viram uma arma.

“Determinou-se que foi impreciso o brandir de uma arma e a memória da vítima sobre o incidente mudou durante a investigação”, diz o relatório.

Já o membro da equipa de segurança contratada pela produção que alegou que um grupo de habitantes locais ameaçou “disparar para o ar” se não recebesse o dinheiro admitiu às autoridades que não tinha testemunhado diretamente este incidente.

Os relatórios indicam que os detetives da polícia ainda estão a recolher os depoimentos de mais testemunhas pessoas e que a investigação ainda está aberta, o que indica as informações do que aconteceu ainda podem voltar a mudar.

Ainda com Moses Ingram (da série "Obi-Wan Kenobi"), "Lady in the Lake" tem lugar na década de 1960 e centra-se numa dona de casa e mãe que se reinventa como jornalista para investigar uma série de assassinatos não resolvidos.

Na origem está um livro de Laura Lippman, que é esposa de David Simon, criador da icónica série “The Wire - Sob Escuta” (2002-2008) e da minissérie "We Own This City" (2022, HBO Max), ambas com ação em Baltimore.

Nas redes sociais, o produtor e argumentista elogiou a forma como as autoridades lidaram com a situação: "Não é a minha produção. Não conheço todos os detalhes. Mas filmámos 200 horas de televisão ao longo de duas décadas. Comunicámos onde rodávamos. Sempre apareceram alguns faladores a fazer ondas; sempre as pessoas da equipa — responsáveis pelos locais de rodagem, segurança, a polícia de Baltimore — treinadas para responder com firmeza, mas respeitosamente. Baltimore é gente boa", escreveu.