(Notícia atualizada à 0h29 de 11 de julho)

Alec Baldwin foi acusado, esta quarta-feira, de brincar com uma arma letal, no início do esperado julgamento contra a estrela de Hollywood pelo disparo que matou a diretora de fotografia Halyna Hutchins no set do filme “Rust”.

O ator segurava um Colt durante um ensaio em outubro de 2021 no estado do Novo México, quando a arma disparou e levou à morte de Hutchins, além de ferir o realizador Joel Souza.

Baldwin tem insistido que não sabia que a arma estava carregada e nega ter puxado o gatilho.

A procuradora Erlinda Ocampo Johnson expôs os argumentos iniciais do Estado num tribunal de Santa Fé, caracterizando Baldwin como uma poderosa estrela de cinema que violou regras básicas de segurança ao manipular armas no set e que se comportou de forma irresponsável no local de trabalho.

Johnson afirmou que Baldwin "pediu que lhe dessem a maior arma disponível" para a cena de "Rust", que ele não levou o treino de manipulação de armas a sério e que a apontava para outras pessoas no set.

Baldwin, de 66 anos, brincou ao “faz de conta com uma arma verdadeira e violou as regras fundamentais de segurança de armas de fogo”, afirmou a procuradora ao júri.

"Estas regras de rodagem exigem que atores, como o acusado, manipulem cada arma de fogo como se estivesse carregada, nunca apontem uma arma de fogo para outra pessoa e nunca coloquem o dedo no gatilho a menos que estejam prontos para atirar", acrescentou.

O Ministério Público já se certificou de que a profissional responsável pelas armas no set, a armeira Hannah Gutierrez, fosse condenada por homicídio involuntário este ano e sentenciada a 18 meses de prisão. O ator pode enfrentar a mesma sanção.

Alec Baldwin abraça o irmão, o ator Stephen Baldwin

Baldwin chegou ao tribunal vestindo um fato escuro e gravata. Conversou tranquilamente com a sua esposa Hilaria e o seu irmão Stephen enquanto aguardavam o início dos procedimentos.

Um dos seus advogados, Alex Spiro, cuja lista de clientes inclui personalidades como Elon Musk e Jay-Z, lembrou aos jurados na terça-feira que os seus sentimentos ou opiniões anteriores sobre a carreira de Baldwin não poderiam influenciar as suas ações.

O ator, com dezenas de papéis no cinema e na televisão em mais de quatro décadas de carreira, nos últimos anos interessou-se pela comédia, incluindo uma imitação do ex-presidente Donald Trump no programa "Saturday Night Live", que lhe rendeu afetos e desafetos na polarizada opinião pública.

O advogado expôs um longo argumento inicial negando que as normas de segurança para a manipulação de armas se apliquem aos atores enquanto estão na personagem.

"Estas regras fundamentais não se aplicam num set de rodagem", declarou Spiro. "Vocês já viram trocas de tiros em filmes", disse ao júri, citando clássicos do cinema como "Platoon", "Apocalypse Now" e "Dois Homens e um Destino".

"Isto é possível porque a segurança é garantida antes de o ator" receber a arma, acrescentou.

Numa entrevista em 2021, Baldwin garantiu que não puxou o gatilho.

Nesta quarta-feira, Spiro defendeu a inocência do seu cliente, mas pareceu recuar parcialmente nessa afirmação.

"No set você tem o direito de puxar o gatilho (...) Isso não o torna culpado por homicídio", afirmou.

O juiz descartou numa audiência preliminar o uso de provas que incriminariam Baldwin no seu papel adicional como produtor executivo de "Rust".

Halyna Hutchins

Hutchins, uma estrela em ascensão na indústria, tinha 42 anos quando morreu. Nascida na Ucrânia, cresceu numa base militar soviética no Círculo Polar Ártico, era casada e tinha um filho.

Ela morreu no set de uma pequena capela no Rancho Bonanza Creek, a cerca de 30 quilómetros de Santa Fé, numa tarde ensolarada de outubro de 2021.

Baldwin ensaiava uma cena em que a sua personagem, um fora-da-lei encurralado por dois agentes numa igreja, saca o seu revólver, quando a tragédia ocorreu.

Ele afirma que foi informado de que o revólver estava "frio", termo usado no cinema para indicar que não há munição e que é segura a sua utilização.

Balas verdadeiras são proibidas nos sets de filmagem.

Un relatório do FBI contradiz parte do depoimento de Baldwin ao concluir que o revólver não poderia ter disparado sem o gatilho ter sido acionado.

Os testes do FBI, porém, danificaram a arma, lembrou Spiro, que disse aos jurados que isso impede que contestem o relatório. O advogado chegou a sugerir que a destruição do Colt foi deliberada.

Em seguida, o advogado responsabilizou os encarregados pela segurança do filme, como a armeira Hannah Gutierrez, por permitir a entrada de uma bala de verdade no set.

"Essa bala é a chave", disse Spiro.

Gutierrez foi declarada culpada por este mesmo tribunal de Santa Fe e cumpre 18 meses de prisão.

Imagens dramáticas

As primeiras testemunhas do Ministério Público neste mediático julgamento foram os políicas que atenderam à chamada de emergência naquela tarde de outubro.

O júri assistiu a vídeos das câmaras corporais dos agentes, incluindo imagens dramáticas de alguns dos momentos finais de Hutchins.

A tragédia interrompeu a rodagem de "Rust", mas o western foi concluído no ano passado em Montana, com o viúvo da diretora de fotografia como produtor.

Baldwin presenciou os depoimentos com os braços cruzados na maior parte do tempo e com olhares ocasionais para o júri.

Após o início das argumentações esta quarta-feira, o júri ouvirá outras testemunhas, que devem incluir o realizador Joel Souza, ferido pela mesma bala que matou Hutchins.

A lista de possíveis testemunhas inclui David Halls, assistente de realização, que se declarou culpado após um acordo que evitou a pena de prisão, e o fornecedor de armas de fogo Seth Kenney.

Não se sabe se Baldwin vai depor. Especialistas jurídicos afirmam que seria uma estratégia arriscada, considerando que o ator, alegadamente temperamental, teria que enfrentar um duro interrogatório.

O julgamento deve durar dez dias, antes do início das deliberações do júri.