Esta terça-feira, dia 22 de março, o Dr. Shaun Murphy (Freddie Highmore) e companhia regressam ao pequeno ecrã, ao canal AXN, para a segunda parte da quinta temporada. Antes da estreia, o SAPO Mag conversou com David Shore, criador de "The Good Doctor".

Nos novos episódios, o protagonista enfrenta novos desafios na sua vida profissional e pessoal. "Tentámos criar um tema para cada temporada e isso ajuda-nos, mas também nos diferencia. Os temas quase sempre se relacionam, claro, com o Dr. Shaun Murphy e, especificamente, com os desafios que vai enfrentar - são desafios pessoais, desafios profissionais... e o seu desenvolvimento como ser humano, como acontece com todos", destaca o criador da série.

"É uma oportunidade de ver a perspectiva dele sobre os desafios que todos enfrentamos. E, então, isso é provavelmente - talvez a maior - a coisa mais importante que fazemos todos os anos", defende.

Em conversa com os jornalistas, David Shore confessa que se coloca sempre no lugar dos espectadores, "mas não de todos". "Tenho de abordar a história como um espectador, mas não me tento colocar no lugar de todos os espectadores nem dar o que os espectadores querem. É mais o que eu quero, quando me vejo como um espectador típico, o que acho mais divertido, dramático e desafiador. Até um certo ponto, sentes-te bem se fizeres isso. Nós fazemos isso", sublinha.

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"As personagens têm de enfrentar desafios, como todos nós. Mas é uma série e gosto de pensar que somos uma série sobre esperança. Estas são pessoas boas a tentar fazer coisas boas e acho que é muito realista. Mas nem sempre tudo corre bem com eles e com os pacientes. Há coisas más que acontecem, são desafios que vão enfrentando - mas não é uma série sobre criminosos, não é uma série sobre bandidos", frisa.

Para David Shore, todas as séries médicas são diferentes, apesar de se focaram em profissionais de saúde. "Poderíamos fazer um episódio sobre um transplante de coração e seria muito diferente do episódio de 'Anatomia de Grey' sobre um transplante de coração", destaca. "As séries são sobre as atitudes, as pessoas, as questões éticas e como abordam isso e como isso as afeta", acrescenta.

A COVID-19: "Somos uma série sobre acontecimentos atuais"

David Shore relembra que a equipa decidiu falar da pandemia, mas não dedicar uma temporada ao tema. "Foi uma decisão muito difícil. Não vou dizer que foi a decisão errada ou a decisão certa. Foi uma decisão tomada com base, novamente, nos nossos instintos, mas também com base em informações incompletas", começa por contar.

"A COVID-19 chegou em março de 2020 e estávamos a contar as histórias para os episódios de abril e maio de 2020. Não tínhamos ideia de que ainda estaríamos a falar disso, talvez fosse ingenuidade - acho que não estávamos sozinhos. Acho que ninguém pensava que ainda estaríamos a falar disto em 2022 - não a falar disto, mas a falar sobre o que aconteceu. Sabíamos que era algo sério, que tinha de ser tratado, especialmente porque é uma série sobre médicos. E decidimos falar disso", relembra.

Para o criador da série, foi complicado escrever os episódios sobre a pandemia. "A nossa série é filmada meses antes de ir para o ar. É complicado. (...) Quando estás a lidar com acontecimentos atuais, não sabes como será o mundo quando a série for para ar", explica. "Em primeiro lugar, é uma série sobre esperança e queríamos falar de um futuro promissor; em segundo, teríamos parecido idiotas se a COVID-19 tivesse acabado em meses e tivéssemos uma série com pessoas a usarem sempre máscara. Isso não aconteceu, infelizmente; em terceiro lugar, não somos uma série sobre COVID. Somos uma série sobre acontecimentos atuais e queríamos respeitar isso. Queríamos respeitar todos os profissionais de saúde que estavam a arriscar as suas vidas", explica.

"Contamos histórias individuais, episódio a episódio, sobre pessoas que lidam com crises hospitalares, desafios médicos e desafios pessoais que não são a COVID. Que são pequenos e pessoais, mas muito, muito importantes. E nossa visão era que se a COVID estivesse lá mesmo em segundo plano, estaria no centro e tiraria as histórias pessoais. Isso iria distrair das histórias pessoais. Essa foi a análise que aconteceu e foi a este compromisso que chegámos", revela.

De "Dr. House" a "The Good Doctor", o sucesso das séries médicas de David Shore

Além de "The Good Doctor", David Shore foi responsável por "Dr. House". "Gosto mesmo disto, tive muita sorte", confessa.  "Era advogado de formação. Ainda não tenho a certeza se estou convencido que gosto da área da medicina. Certamente está repleta de desafios dramáticos e de oportunidades dramáticas e para dramas. Tive muita sorte, encontrei sucesso ao escrever sobre médicos", explica, relembrando a série protagonizada por Hugh Laurie.

The Good Doctor

"Não importa onde vivemos, não importa a língua... todos amamos as pessoas que adoramos, valorizamos as nossas vidas e lutamos com as mesmas questões éticas. É muito interessante porque são as questões éticas que me motivam. É sobre isso que gosto de escrever - sobre as coisas certas a fazer; as coisas erradas em situações muito, muito difíceis", confessa.

"Quando o 'Dr. House' começou, estava num evento de imprensa e perguntaram-me se sabia como é que a série iria terminar. Foi na segunda temporada e eu disse: 'Sim. Uma manhã, alguém do canal me vai ligar e dizer que a audiência caiu e que a série foi cancelada. É assim que vai acabar'. Porque percebi que iam continuar e continuar até deixar de ser lucrativa. Achei que não seria uma escolha criativa, mas acabou por ser uma escolha criativa. Foram bons para mim e tive sorte... espero que se repita desta vez", conta.

"A televisão mudou e permite isso. É fantástico. Então, não vou dizer nada. (...) Mas sim, estamos a pensar há algum tempo e queremos continuar mais algum tempo. Mas queremos ter uma despedida apropriada", remata.