"Eu, o último dos teus grandes amores; eu, um louco por te dar meu coração". Os primeiros versos de "24 Rosas", popular tema de José Malhoa, foram o pontapé de saída de "Deixem o Pimba em Paz", que abriu o festival Montepio - Às Vezes o Amor, no Coliseu do Porto. Em poucos segundos, o público soltou a voz e alinhou-se a Bruno Nogueira, Manuela Azevedo, Filipe Melo, Nuno Rafael e Nelson Cascais

A viagem seguiu com "Azar na Praia", o maior sucesso da carreira de Nel Monteiro. Sem pausas, os músicos e o humorista recordaram a história de "ilusões, falsas quimeras" contada (e cantada) por Ágata em "Sozinha".

Ao quarto tema do alinhamento, o entusiasmo do público era geral. Aplausos, dança (sempre com distanciamento), um coro com considerável eco e gritos:  "Só mais uma", atirou um espectador. Mas ainda faltava muitas, respondeu Bruno Nogueira. Entre gargalhadas e gritos, a banda serviu "Na Minha Cama com Ela", a história da traição mais popular da música portuguesa.

Nas primeiras canções do espetáculo e apesar de terem estado meses afastados dos palcos, os protagonistas de "Deixem o Pimba em Paz" provaram que a máquina continua muito bem oleada - tal como na televisão, há beleza nos pequenos erros. E os espectadores, canção após canção, responderam na mesma moeda - as máscaras não atrapalharam ninguém na hora de soltar a voz ("Solta-te, liberta-te?").

Bruno Nogueira, Manuela Azevedo, Filipe Melo e companhia no Coliseu do Porto: nunca confinem nem
Bruno Nogueira, Manuela Azevedo, Filipe Melo e companhia no Coliseu do Porto: nunca confinem nem créditos: TIAGO DAVID

No desfile de canções seguiu-se "Vem devagar Emigrante". O tema de Graciano Saga marcou um dos momentos mais intensos de todo o espetáculo, com Bruno Nogueira a destacar a história dramática do emigrante que vinha ao seu país ver o seu pai doente - mas o seu destino "acabou por ser fatal, numa estrada em Espanha". E nunca esquecer: "Mais vale um minuto na vida, do que a vida num minuto".

Depois da tragédia, o amor voltou ao palco do Coliseu ao som de "Comunhão de Bens", com Manuela Azevedo a dar voz à história popularizada por Ágata.

Apesar de "Deixem o Pimba em Paz" estar inserido no festival Montepio - Às Vezes o Amor, no Coliseu do Porto não se cantou apenas o amor. Também houve espaço para uma reflexão sobre a agricultura. O debate sobre os nabos, grelos e pepinos foi feito ao som de "Porque Não Tem Talo o Nabo", de Leonel Nunes.

O programa das festas continuou com "Sensual" (Toy), "Garagem da Vizinha" e "O Melhor Dia Para Casar" (Quim Barreiros).

Entre as canções, Bruno Nogueira conversou com o público e aproveitou para apresentar os colegas do projeto. "No início, quando pensei neste projeto, só fazia sentido levá-lo para a frente com pessoas que eu admirasse. (...) Como isso não foi possível, estão cá eles... uma espécie de marca branca dos músicos", gracejou o humorista antes de apresentar a banda que o acompanha no projeto.

Ao apresentar Filipe Melo, o humorista relembrou que a participação do músico no Festival da Canção não correr muito bem, fazendo uma imitação de Tatanka, vocalista dos The Black Mamba. Bruno Nogueira brincou ainda com Manuel Azevedo, lembrando que a voz dos Clã nunca agradeceu por fazer parte do projeto.

Depois da conversa, seguiu-se mais uma (segunda) dose de pimba com "Ninguém, Ninguém" ou "Não És Homem Para Mim".  "Cabritinha", "Padaria" e "Bichos da Fazenda" fecharam o espetáculo "Deixem o Pimba em Paz" no Coliseu da cidade Invicta.

O concerto de mais de uma hora e meia levou o público numa grande viagem pelos temas da música pimba. É uma bela homenagem ao cancioneiro popular português e dá uma nova vida aos temas através de arranjos alternativos. Não há quem não se divirta.

O espetáculo já conta com sete anos de estrada e continua a surpreender concerto após concerto. Bruno Nogueira, Manuela Azevedo, Filipe Melo, Nuno Rafael e Nelson Cascais, por favor, nunca "Deixem o Pimba em Paz".