Kendrick Lamar, De La Soul, Orelha Negra e Mike El Nite foram alguns dos que representaram o hip hop ao mais alto nível num dia que também contou com FIDLAR e ainda GNR, entre muitos outros.
Quem esteve nos outros dias, não estava preparado para ver o Palco Antena 3 totalmente lotado. Sem espaço para sentar, sem espaço para estar de pé, assim esteve o lugar onde Mike el Nite atuou. Com uma t-shirt de Portugal vestida, este capitão das esperanças lusas do hip-hop trouxe O Justiceiro para dar cabo das colunas do palco. Com as suas letras caústicas e inflamadas, foi com um público que tinha as palavras bem decoradas que se elevou a fasquia para o resto do dia, com convidados como o ProfJam, para cantar o Mambo Nº1, ou Da Chick com o tema Só Badalhocas. Espaço ainda para o hit nostálgico Santa Maria ou Horizontes, tocado no início, que compõem aquele que foi um dos grandes concertos do dia.
Com um estilo oposto, no Palco EDP, estiveram os FIDLAR. Sobre o baluarte do garage rock e do punk, os dois álbuns lançados pela banda norte-americana até agora foram suficientes para angariar uma grande falange de apoio, inclusive em Portugal. De início ao fim, a Pala do Siza Vieira acolheu imensos “moshes”, inúmeros registos de “crowdsurf”. Wake Bake Skate, com início coreografado, terminou um concerto perto da hora de jantar, para regozijo daqueles que perderam as forças a andar de um lado para o outro.
Os Orelha Negra foram os únicos portugueses a pisar o palco principal nesta 22ª edição do Super Bock Super Rock. É levantando uma cortina fina que se dá início a um espetáculo que mais do que hip-hop, demonstra que o projeto continua num registo muito groove, cheio de personalidade, e que não se esgota pelo facto de ser instrumental. Ainda a mostrar novo material, resultado do álbum que está praticamente a sair, reconhecemos os singles A Sombra ou Parte de Mim, lançado na véspera da actuação. Com um medley no início a incluir Simon Says, de Pharoane Monch, ou Gravel Pit, dos Wu-Tang Clan, foram várias as referências extra-Orelha Negra, como Drake, com To 100 e Hotline Bling. Mas nem tudo é novidade no concerto. Houve ainda tempo para recordar temas como o Round and Round, Throwback ou M.I.R.I.A.M. Os Orelha Negra voltaram e estão para ficar.
Pouco depois foram os De La Soul a entrar em palco. Vindos de Nova Iorque, o intuito foi celebrar uma carreira com mais idade do que grande parte das pessoas que estavam na plateia. Sempre muito comunicativo, o trio conseguiu centrar as atenções no público, visto que, com um palco despido de elementos visuais, foi com a dinâmica provocada pela banda que o concerto ganhou uma outra cor. As rimas, a euforia, o espírito arrasador e os mais variados temas, como oMe, Myself and I ou ainda A Roller Skating Jam Named Saturdays fizeram com que o público ficasse preparadíssimo para o concerto da noite.
Psicopátria foi um álbum marcante para a vida dos GNR. Assumidamente pop, o disco que celebra 30 anos, foi tocado na íntegra e pela ordem do Lado A e Lado B, por parte de Rui Reininho e companhia. Efectivamente, Pós-modernos e Video Maria, arrancado já do álbum Sob Escuta, fizeram levantar o pé dos poucos, mas bons resistentes que estiveram no Palco EDP.
Kendrick Lamar já vinha sendo apontado como o grande concerto do ano em Portugal e podemos dizer, agora, que a realidade superou as expectativas. O norte-americano, apoiado em palco com a frase do George Clinton “Look both ways before you cross my mind”, tem em mãos um público eufórico, ávido de ouvir o seu rap incendiário.
K-Dot apresentou, durante uma hora e meia, uma atuação sem pontos baixos. Backseat Freestyle, M.a.d.d. city (part. 2) ou Swimming pools foram a primeira etapa de um concerto que aqueceu e fez fervilhar o MEO Arena... tornando-se por vezes demasiado quente.
Com letras trabalhadas, politicamente arrojadas e acompanhadas de sonoridades riquíssimas como soul ou jazz, como Complexion, For Sale ou Money Trees consagram a carreira e a presença de Kendrick em Portugal. Entre outros pontos altos ouvimos Bitch don’t kill my vibe ou King Kunta, cantados a meias entre o público e o rapper. Por mais do que uma vez, vimos em palco um homem emocionado com tudo o que alcançou, perante um pavilhão com mais de 20 mil pessoas a declararem juras de amor. Como o tempo anda e é ele quem manda, chega-se ao fim do concerto, mas ainda com energias para cantar e saltar ao ritmo de Alright.
À saída, ainda não há bem a certeza do que acabámos de ver, mas ecoa na cabeça uma frase de um cantor de outros tempos. “A cantiga é uma arma”. Se houve uma forma de terminar o Super Bock Super Rock de forma espectacular, foi com o Kendrick Lamar.
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