A tarde arrancou quente e ao mesmo tempo corria uma brisa agradável no palco EDP. Não necessariamente no estado atmosférico, mas sim pela lufada de ar fresco que Bruno Pernadas e a sua banda deram ao festival. Uma banda composta por várias caras conhecidas de outras, como Afonso Cabral, dos You Can’t Win, Charlie Brown, Margarida Campelo ou Francisca Cortesão, dos Julie and The Carjackers. Ao som do álbum com um dos maiores títulos de sempre, "Those Who Throw Objects at the Crocodiles Will Be Asked to Retrieve Them", também conhecido pelo diminutivo "Crocodiles", foi através de temas como "Spaceway 70", "Anywhere in Time" ou "Galaxy" que se compôs uma sessão da tarde, baseada numa multiplicidade de géneros, desde o jazz à pop. Uma esquizofrenia boa, portanto.
No mesmo palco, surgia um dos bons produtos da nova música popular brasileira, Silva. Ao final de tarde, o cantor fez questão de interpretar um tema dos Novos Baianos, "Mistério do Planeta". Aliás, foi um concerto que se pautou pela diversidade de temas, não se circunscrevendo a "Silva Cantando Marisa", último projeto que se pautou pela reinterpretação de temas da Marisa Monte. A viagem por "Claridão" e "Júpiter" neste verão alegrou muito os fãs de Silva, cantor que tem passado por Portugal na altura do inverno, como no Vodafone Mexefest, por exemplo. Uma despedida com sotaque doce e com um som para aproximar ainda mais os casais na época estival.
Pouco depois encontrámos uma segunda persona de Tom Barman. O conhecido vocalista de dEUS dá voz aos Taxiwars, banda de jazz-rock cocriada com o saxofonista Robin Verheyen, radicada em Nova Iorque e com a intenção de ser uma explosão de energia em palco. Que é basicamente o que acontece. A voz do belga torna-se num furacão que não deixa ninguém ileso, e o saxofone de Robin destrói todo o resto. Dotados de um jazz/rock “punky”, como os próprios adjetivam, tornam o som numa aleatoriedade de estilos que só importa curtir ao sentir o lado punk de "Fever", "Death Ride Through" a "Wet Snow".
Entretanto, no palco Super Bock regressava a Portugal uma banda que se acreditava ter desaparecido do mapa. Na verdade tinha-se fechado em estúdio durante dois anos para um álbum que será lançado nos próximos dias. Os norte-americanos Foster the People pegaram na magia das luzes e na fórmula que conquistou o ouvido do público indie pop. O espetáculo visual com muitas luzes foi complementado com o álbum "Torches". "Helena Beat", "Houdini" ou a badalada "Pumped it Kicks" fizeram do rápido concerto uma boa maneira de prepararmos para o tufão, de seu nome Chino Moreno que iria surgir em palco.
Sete anos depois da sua última atuação em Portugal, os Deftones regressaram. Chino Moreno e companhia sabem que não têm tempo a perder. "Gore" foi o motivo para a presença no Pavilhão Atlântico e segundo muitas opiniões é dos melhores álbuns da banda depois do clássico "White Pony", lançado no início dos anos 2000.
A banda norte-americana, que está praticamente a caminhar para os 30 anos de carreira, entra com "Headed Up" e "Shove It", que incitaram às primeiras movimentações para os moshs nas filas dianteiras. Os empurrões tomam conta da ocorrência, os saltos e as vozes cantadas a plenos pulmões, como em "Digital Bath", "Diamond Eyes" e "Phantom Pride". Aqui, também se ressalva a grande disponibilidade física e vocal de Chino Moreno, que não perde tempo em andar de um lado para o outro do palco. Nota também para as luzes epilépticas, à medida da música.
A festa continua em "Knife Party", quando Chino decide-se juntar ao seu povo – nota para o fã que ficou abraçado ao vocalista praticamente a canção inteira. A hora aproximava-se para uma das maiores atrações do palco secundário, com Seu Jorge a cantar Bowie, e isso verificava-se com a dispersão de pessoas, maioritariamente nos balcões e na zona traseira da plateia. É nesta altura também que começam a surgir os grandes momentos da noite, com o célebre "Back to School", "Change (in the House of Flies)" ou "Be Quiet and Drive" a tomarem conta das ocorrências. A noite termina com despedidas eufóricas e com a saída dos Deftones pela porta grande.
Ao irmos para a Pala do Pavilhão de Portugal, reparamos numa enchente nunca antes vista nesta edição do festival, e naquele palco em concreto. Ouvimos ao fundo Seu Jorge a cantar, em português, temas do filme "Um Peixe Fora de Água", de Wes Anderson. Ao longo de "Life on Mars", "Starman", "Rebel Rebel" e outras versões de David Bowie, o brasileiro reconta histórias que tornam vivas as aventuras mágicas do Homem que veio do espaço. Mais uma vez, e para terminar, antes da festa de Fatboy Slim, com algo completamente diferente no dia mais eclético do Super Bock Super Rock. Para o ano, o regresso do festival já está confirmado: no mesmo local e quase nas mesmas datas.
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