“Devendra Banhart: Offering Cloud of Scattered Genitalia” mostra a obra plástica do também poeta e artista visual de raízes venezuelanas, que já atuou várias vezes em Portugal e que já expôs os seus “singulares desenhos e pinturas” em vários países e cidades dos Estados Unidos.

O primeiro desenho data de 1999, em tons de azul, num papel amarelado do tamanho de um pequeno livro e que leva a imaginação para um vitral em tons de azul, e é uma homenagem a uma das músicas favoritas do artista, “Hello Stranger” e foi por ele que começou a conversa com a Lusa: “Aqui não há talento. Há perseverança, paciência, método, mas são riscos quase geométricos de um pincel com um só pêlo”.

“Entre este e os últimos naquela parede [um conjunto de pinturas a aguarelas] vão muitos anos. Neste passei horas, traço por traço. Aqueles demoraram minutos a executar”, disse, salientando que aqueles são “uma outra história”, a que já lá se chegará.

Devendra Banhart
Devendra Banhart créditos: Lusa

Nas quatro paredes de uma das salas de exposições do primeiro andar do Museu de Serralves, e em duas mesas expositórias, os desenhos e aguarelas contam histórias. É possível ver o perfil de uma esfinge, preenchida ora com padrões, ora com simples traços.

Há seios, pernas desmembradas ou com novos membros, sapatos com tacão agulha, traços de rabos, olhos, olhares, um perfil de palhaço com a boca vermelha em vários desenhos, “são o mesmo ator em diferentes papéis e com diferentes narrativas”.

“É a liberdade do irracional, a alegria de brincadeiras. Parece-lhe triste o palhaço? Não. Ou sim. Cada um vê como sente, ou pensa. Não acho que esteja triste, mas, bem, se calhar está. Acha?”, afirmou, explicou e questionou o artista.

Depois das paredes com desenhos, aparecem as primeiras aguarelas. “Duas, que deviam ser três, aquela também faz parte destes”, apontou Devendra. Primeiro um perfil, depois os olhos e, na terceira imagem, aquela que ficou mais distante, “um sorriso, o sinal nas costas, as mãos e a testa”, ou algo assim, segundo o artista. “Mina Lasso”, perto de Mona Lisa, é o nome do trio.

Para o diretor do museu, Philippe Vergne, também curador da mostra, “há uma espécie de explosão, um crescendo da exposição, do desenho passa-se à aguarela”, já em telas brancas e menos em papéis.

Devendra Banhart
Devendra Banhart Devendra Banhart créditos: Lusa

“As formas e texturas desconformes surgem nas mais variadas dimensões e suportes, seja em papel de desenho de qualidade ou em superfícies deterioradas. Através do desenho, o artista desenvolve um sistema de traços caligráficos/modernistas, incorporando figuras imaginárias sexualizadas e caricaturas e gestos caligráficos abstratos”, escreveu Philippe Vergne, no roteiro de “Devendra Banhart: Offering Cloud of Scattered Genitalia”.

Noutra história, que ficou por contar no inicio: “Isto aconteceu numa viagem de comboio no Japão”, explicou Devendra, apontando para a última série de obras na quarta parede da sala.

Aquela série, um conjunto de aguarelas, com cores suaves e formas abertas, são aquilo a que o artista chamou “algo parecido com música”.

“Eu quis pintar algo que fosse como música. Não, não pintei no comboio, mas comecei no comboio. Depois foi pintar e foi rápido, com facilidade no traço. Só demorei 22 anos a chegar dali [dos desenhos metódicos] aqui”, terminou.

Exposição
Exposição créditos: Lusa

“Devendra Banhart: Offering Cloud of Scattered Genitalia” está patente até 18 de maio de 2025.

Devendra Banhart nasceu em Houston, nos Estados Unidos da América, viveu até à adolescência em Caracas, na Venezuela, estando agora radicado em Los Angeles.

É considerado um dos pioneiros dos movimentos ‘freak folk’ e da New Weird América e já colaborou com colaborou com artistas como Vashti Bunyan, Yoko Ono, ANOHNI, Caetano Veloso, Beck, entre outros.

Além da música, Devendra pinta ou desenha a maior parte das capas dos seus álbuns, tendo uma dessas capas estado nomeada para um Grammy (2010).