Quinta-feira, 8 de outubro, assistimos a uma enchente no Cais da Pedra. Pelas 22 horas, muita gente se acomodava numa fila à frente e à volta do Lux-Frágil para ver Savages, em mais um concerto das britânicas por cá que não desiludiu.
Num concerto anunciado com apenas cinco dias de antecedência, foi-nos possível constatar uma sala lisboeta quase cheia, que ansiosamente aguardava a subida ao palco da banda londrina. A francesa Jehnny Beth (cujo nome verdadeiro é Camille Berthomier) - acompanhada de Gemma Thompson na guitarra, Ayse Hassan no baixo e Fay Milton na bateria - tomou conta do microfone e, logo a seguir, dos nossos ouvidos e coração que batiam freneticamente aquando do saudar da audiência.
Se ainda restavam dúvidas da presença inesperada do quarteto em Lisboa, "I am Here", de Silence Yourself (2013), fez questão de as dissipar, colocando banda e público de mão dada pela próxima hora de concerto, na qual não houve pausas para respirar - isto tanto de um lado como de outro. A plateia, a uns míseros centímetros do que parecia ser a reencarnação do punk, vestia também a pele de públicos que assolaram o Reino Unido na década de 1970, com um bocadinho menos de preto e de cabedal nas cores. Se me for permitida a comparação, arriscaria dizer que Jehnny Beth se assemelhou a Ian Curtis (falecido vocalista dos Joy Division) em vários momentos, no que dizia respeito a linguagem corporal e envolvimento com a música.
Entre fortes guitarradas, pesados acordes de baixo, uma bateria que marcava passo a um ritmo fulminante e berros sentidos, o espetáculo de música transpunha-se para uma face mais espiritual que culminou em "Adore", canção que antecedida por um discurso de agradecimento pela adesão após convite repentino e entrega de outro convite - o de participar no videoclip de uma das novas canções da banda, a gravar sábado.
As Savages misturaram partes do álbum que se encontra ao virar da esquina com o já conhecido e acarinhado Silence Yourself, apresentado em Portugal já por duas ocasiões (Optimus Primavera Sound em 2013 e Super Bock Super Rock em 2015) e o resultado foi excelente. A interação connosco, com quem via de baixo, era familiar - talvez seja suspeito, já tinha saudades desde julho - e elétrica, tanto que houve telemóveis a chegar às mãos da vocalista, uma rapariga a subir ao palco, uma sala completamente ao rubro, tal qual se via há 40 anos nas ruas de Londres mas com um bocadinho mais de requinte.
Quando entoada "Fu**ers", uma canção de incentivo à força de vontade, todos achávamos que o concerto tinha terminado. Aquele momento de remoção do mundo havia ficado para trás, começando a deixar apenas saudade - pensava eu enquanto subia as escadas. De repente, gritos ressoavam pelo Cais da Pedra e o zumbido elétrico da guitarra tinha voltado: Savages tinham-nos surpreendido uma vez mais, e desta vez com um encore, que terminou a noite em beleza.
Fotos @Nuno Nelas
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