A Flórida retomou, esta segunda-feira (27), o controlo administrativo de um território governado pela Disney à volta do seu parque temático em Orlando, no mais recente episódio de uma disputa entre o governador republicano Ron DeSantis e a gigante do entretenimento.

“Hoje o reino corporativo finalmente chega ao fim”, declarou DeSantis durante a assinatura da lei, que troca a governação do distrito especial, aprovada há duas semanas pelo Parlamento estadual.

“Esta legislação acaba com o estatuto de autogoverno da Disney, faz com que a Disney viva sob as mesmas leis que todos os demais e garante que a Disney pague as suas dívidas e a sua parte justa de impostos”, acrescentou.

O político e a empresa desentenderam-se no ano passado quando a Disney criticou uma lei promovida por DeSantis que proíbe abordar questões relacionadas com orientação sexual e identidade de género nas escolas primárias da Flórida sem o consentimento dos pais.

Como represália por essas críticas, o governador assinou em abril uma lei para eliminar o distrito especial da Disney, conhecido até então como Reedy Creek Improvement District.

A companhia, que emprega mais de 75 mil pessoas na Flórida, administra esse distrito de 100 km² como uma câmara local desde a década de 1960. Cobra impostos e garante serviços públicos essenciais, como a recolha de lixo e tratamento da água.

"Permitir que uma corporação controlo o seu próprio governo é uma má política, especialmente quando a corporação toma decisões que impactam toda uma região", afirmou DeSantis, presente no distrito, que passa a chamar-se Central Florida Tourism Oversight District.

"Amigos conservadores"

A nova lei, que entra em vigor de imediato, não anula esse distrito especial, mas substitui a sua liderança. Desde já, o governo designará cinco membros para a junta de supervisores, que deverão ser aprovados pelo Senado estadual.

DeSantis já anunciou as seus candidatos para essa junta, entre os quais se destacam Bridget Ziegler, cofundadora da organização conservadora Moms for Liberty.

A legisladora democrata Anna Eskamani, que representa a área ao redor do parque Walt Disney World, criticou a medida que foi assinada.

"Tudo o que esse projeto de lei faz é trocar o nome de Reedy Creek e permitir que o governador DeSantis nomeie para uma nova junta os seus amigos conservadores hostis" à Disney, escreveu num comunicado.

"A Disney continua a manter os mesmos incentivos fiscais, mas os seus direitos da Primeira Emenda (que garantem a liberdade de expressão) foram retirados, enviando uma mensagem a qualquer pessoa ou empresa privada de que, se não quer o que o governador quer, então será punido", acrescentou.

A iniciativa contra a Disney insere-se na batalha cultural travada nos últimos meses por DeSantis, de 44 anos, visto como um provável candidato à Casa Branca em 2024.

Durante meses, os republicanos, liderados pelo governador da Flórida, atacaram meios de imprensa, empresas e políticos democratas, a quem acusam de querer impor a sua ideologia progressista aos demais.

"Queremos que os nossos filhos sejam crianças, queremos que possam desfrutar do entretenimento, da escola, sem que uma agenda lhes seja imposta", disse DeSantis esta segunda-feira.