Nas vésperas do pleito, Paulo Betti não esconde a ansiedade e a apreensão de estar fora do seu país num momento tão decisivo para o povo brasileiro, incluindo os trabalhadores da cultura, que viram o Ministério responsável pela categoria desaparecer durante o atual governo. “Fiquei muito tenso com a vinda, mas agora estou aqui em Lisboa para ajudar. Eu estive na Madeira também e, apesar de muitos que estão lá não poderem votar, eles têm família no Brasil, e a todo segundo estou pegando alguém e conversando”, assumiu.

O ator brasileiro apresenta o monólogo "Autobiografia Autorizada" este sábado, dia 29 de outubro, no Teatro Ribeiro Conceição, em Lamego. “Quando veio a pandemia, tive de interromper essa turnê que eu estava fazendo aqui em Portugal há dois anos. Nós ficamos aguardando e daí veio essa oportunidade de retomada bem nesta época de eleição”, recorda.

Paulo Betti também conta como tem sido a interação com o público a propósito da crise política que tem dominado as manchetes de jornais em todo o mudo. “Quando acaba a peça, eu não falo ‘Lula lá’ [título da canção de Hilton Acioli criada para a campanha de Lula da Silva, do PT - Partido dos Trabalhadores] porque eu também não quero agredir ninguém, pois sabemos que algumas pessoas não estão ali para isso. Mas, eu sempre falo da Amazónia, da pandemia, de todos os problemas. E aí eu percebo que a maioria está compreendendo o que está acontecendo com o Brasil neste momento”, explica.

Paulo Betti
Paulo Betti

Ao lado da atriz e companheira Dadá Coelho, que também fez questão de frisar que essa é a eleição “mais importante da história do Brasil”, o ator tem realizado um intenso trabalho para pedir votos ao candidato Lula da Silva. “Eu votei no primeiro turno e agora eu estou trabalhando e tentando de tudo para que as pessoas também votem em meu nome. Estou em um trabalho intenso na internet, com grupos do interior do Brasil onde faço vídeos especiais para mães, tias, avós e familiares que estão indecisos e não sabem em quem votar no domingo”, descreve.

A propósito da participação de artistas e intelectuais na campanha do Partido dos Trabalhadores no Brasil, Dadá Coelho rebateu as críticas de alguns jornalistas e analistas políticos que afirmaram, durante as últimas semanas, que essas iniciativas não fariam a diferença na viragem de votos a favor do candidato Lula da Silva.

“O fundo do poço é só mais uma etapa, como disse [Luís Fernando] Veríssimo, né? Porque, quando a gente chega ao ponto de achar que livro é ostentação, está tudo errado. E essa é uma pauta que o fascismo e o bolsonarismo compraram. É um governo anti-intelectualidade, pois quem lê tem senso crítico. Então para ele [Bolsonaro] é melhor que a gente não leia. Por isso, achei que a campanha do L e do Livro foram bem interessantes”, defende.

Sobre os colegas de profissão que declararam apoio ao candidato do Partido Liberal (PL), tanto Dadá quanto Paulo demonstraram profundo pesar e descontentamento: “Perdemos Cássia Kis”, disseram com firmeza na voz.

Paulo Betti vê esperança em Lula e diz que 'teatro vai bombar' após pandemia
Paulo Betti vê esperança em Lula e diz que 'teatro vai bombar' após pandemia créditos: TV Globo

Na passada terça-feira, 25 de outubro, a atriz Cássia Kis proferiu diversas declarações polémicas, homofóbicas e preconceituosas durante uma entrevista concedida à jornalista Leda Nagle. Cássia é eleitora declarada de Jair Bolsonaro, assim como Regina Duarte, Malvino Salvador, Humberto Martins e Carlos Vereza.

“Eu acho que ela [Cássia Kis] deve ter tido algum trauma em relação ao aborto. Todo o lance dela me parece ser em cima disso. Nós conversamos raramente, mas eu sempre digo o quanto a Cássia é talentosa e inteligente. Hoje, por exemplo, ela me enviou uma imagem de Jesus Cristo. Eu logo respondi: ‘Cássia, Jesus é preto. Por que você me enviou um Cristo branco, loiro e de olhos azuis?”, revela Paulo Betti.

Esta semana, as declarações de Cássia também levaram Márcia Verçosa de Sá Mercury, advogada e filha da cantora Daniela Mercury e da empresária Malu Verçosa, a abrir uma denúncia ao Ministério Público alegando que esse tipo de discurso de ódio, além de discriminação LGBTfóbica, também é considerado um crime perante o Estado brasileiro.

“Eu não trabalho com anti-vax e acho que não dá mais pra gente ficar relativizando, sabe? Não é uma eleição comum. Não é ‘direita’. Nós já nos relacionamos com a direita, pois sempre tivemos diálogo aberto com o FHC, por exemplo. Isso é extrema-direita. É o fascismo! É tudo que nega a vida. O Bolsonaro é um cara que exalta a morte e não existe nada neste atual governo que não seja para exaltar a morte”, finaliza Dadá Coelho.