Sob o título “Onde Estão Elas?”, a exposição “toma como referência o questionamento da diminuta representação das mulheres na história da arte ocidental”, indicou o museu, em comunicado.

A mostra reúne mais de 100 obras de pintura, escultura, desenho, fotografia, instalação, gravura e cerâmica de 48 artistas portuguesas e estrangeiras, nomeadamente Teresa Sousa, Tereza Arriaga, Toni Frissel, Vinnie Fish, Zulcides Saraiva, em diálogo com obras de artistas contemporâneas como Ana Pérez-Quiroga, Carla Filipe, Luísa Ferreira e Rita Barros.

A curadora, Paula Loura Batista, focou-se nas obras de mulheres da coleção e em depósito no museu, numa seleção pensada para “estabelecer diálogos que suscitam problematizações sobre temas centrais do movimento neorrealista e que constituem preocupações de sempre, intemporais”.

Contactada pela agência Lusa sobre esta nova exposição no Museu do Neo-Realismo, a curadora revelou que alguns dos trabalhos que vão estar expostos nunca foram mostrados ao público.

“Uma parte considerável das obras foram expostas no contexto de outras iniciativas, mas esta exposição tem a originalidade de as colocar em diálogo, nomeadamente com trabalhos produzidos entre a década de 1940 e a contemporaneidade”, indicou Paula Loura Batista.

Questionada sobre o número de artistas representadas na coleção do museu, num universo de 440, “apenas 70 são mulheres, ou seja, 16%”, indo ao encontro da constatação da diminuta representação das mulheres artistas na história da arte ocidental.

“Considerando o contexto cultural, político e social do regime do Estado Novo, em que emerge e se desenvolve o movimento neorrealista português nas artes visuais, entre os anos 40 e 50 do século XX, esta disparidade é expectável”, justifica, em resposta à Lusa por e-mail.

Também no campo artístico, “o domínio era do homem, numa sociedade predominantemente patriarcal, discriminatória e autoritária”, aponta, acrescentando que, naquele período, a participação das artistas representadas agora nesta exposição decorreu sobretudo nas Exposições Gerais de Artes Plásticas (EGAP) da Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA), entre 1946 e 1956.

Foi ali que “a oposição ao regime e à política cultural se foi manifestando, a par de outras exposições coletivas de artistas independentes, e escassas exposições individuais, à margem dos salões oficiais do Estado”.

Maria Keil, Tereza Arriaga, Maria Barreira, Zulcides Saraiva, Alice Jorge, Margarida Tengarrinha e Manuela Jorge são artistas que marcaram presença nas EGAP.

A partir de 1956, com a criação da Fundação Calouste Gulbenkian e com a fundação da Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, “surgem outras possibilidades de experimentação artística e de uma aproximação a contextos de produção, como Paris e Londres, que suscitaram alterações conceptuais e estéticas”, recordou Paula Loura Batista.

No entanto, “essa internacionalização das carreiras de artistas portuguesas e a sua consolidação noutras latitudes só foram efetivas nas exceções conhecidas”, como a de Maria Helena Vieira da Silva, em Paris, ou a de Paula Rego, em Londres.

Ainda assim, no âmbito da atividade da Fundação Gulbenkian, das EGAP e de exposições internacionais de gravura, houve artistas que estiveram presentes noutras geografias, como Paris, Londres, Itália e Tóquio, entre os finais da década de 1950 e nas décadas seguintes, estando representadas em coleções institucionais e privadas, na Europa e nos Estados Unidos da América, entre elas Alice Jorge e Maria Barreira, indicou, como exemplo.

“Estas são, também, das artistas envolvidas no movimento neorrealista português que tiveram um papel mais ativo e persistente, ao longo do tempo”, sublinhou a curadora.

No percurso expositivo estarão também obras, entre outras, das artistas Maria Keil, Menez, Maria Beatriz, Annemarie Clarac, Camila Loureiro, Erika Stone, Ilda Reis, Gisèle Freund, Luísa Bastos, Manuela Jorge e Margarida Tengarrinha.

A exposição “Onde Estão Elas?” estará patente no Museu do Neo-Realismo até 4 de maio, com entrada livre.