O cantor de rock ucraniano escreveu a canção quando estava em Kyiv, nos primeiros dias da invasão russa. "Queria fortalecer os sentimentos daqueles que hesitavam entre ficar e fugir. Queria apoiar aqueles que decidiram ficar em Kyiv", disse à AFP, mostrando fotos de cadáveres, equipamentos russos destruídos e gravações de concertos improvisados.

Depois de 100 dias de guerra e desde o início do conflito, os músicos do país propuseram-se a canalizar a raiva e o impulso patriótico da população em hinos comoventes.

A música desempenha um papel importante na luta contra o exército russo. Variam de uma ode a drones fabricados na Turquia a misturas de batidas populares do TikTok sobre tanques destruídos. E músicos de estilos muito diferentes contribuem para o fenómeno: do black metal ao grupo Kalush Orchestra, que venceu o Festival da Eurovisão.

"A vitória é muito importante para a Ucrânia", disse o líder da Kalush Orchestra, Oleg Psiuk, depois da final.

"Coragem para a vitória"

Outros músicos largaram os seus instrumentos para pegar em armas, incluindo membros do grupo de rock Antytila, que regressaram brevemente a Kyiv em maio para tocar uma versão de "Stand by Me" com Bono e The Edge, dos U2.

Nas rádios, tocam em 'loop' as canções patrióticas que falam da bravura dos defensores do país e da brutalidade da guerra.

"Entendemos que se trata de uma guerra longa e precisamos de forças", explica Julia Vinnychenko, diretora de programação da rádio NRJ em Kyiv. O lema da estação mudou para "Coragem para a vitória".

"Todas as canções estão relacionadas com guerra de uma forma ou de outra. Retratam diferentes humores, melancolia, tristeza, sofrimento, desejo de vitória", explica a DJ Yana Manuilova sobre as músicas que ela escolhe para o programa da manhã.

"Estou muito impressionada com a rapidez com que os artistas ucranianos reagiram criativamente à guerra", acrescenta.

Hinos de guerra

"Acho que o panorama mudou", diz Danylo Khomutovsky, cofundador da rádio Aristocrats em Kyiv. Antes, a maioria dos artistas evitava lidar com questões políticas. Mas agora, explica, começam a conversar sobre assuntos mais sérios.

"Eles começaram a agir como se tivessem a responsabilidade de influenciar outras pessoas: centenas, milhares, milhões", acrescenta.

Outros músicos passaram a criar músicas com letras ultra-agressivas elogiando o espírito de luta ucraniano.

Uma das mais famosas é "Dont't fuck with Ukraine" ("Não f*** a Ucrânia"), de Max Barskih.

Muitas canções de guerra também transmitem um sentimento de triunfalismo, apesar do recente progresso militar do exército russo no leste do país.

E mesmo com a destruição, a festa continua para uma parte dos ucranianos. Durante um concerto na quarta-feira em Kyiv, o grupo Ocheretyanyi Kit tocou em cima de um tanque russo queimado. Uma das músicas dizia respeito aos mísseis "Javelin" fornecidos pelos Estados Unidos.

"Neste momento, não podemos cantar canções de amor. Não é importante", justificou o vocalista do grupo, Serguei Tiagnyriadno.