Numa nota publicada na página da Presidência da República, o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, apresentou as condolências à família e lembrou a “ficcionista, dramaturga, tradutora (Shakespeare, Schnitzler, Brecht, Müller, Fosse), ensaísta, jornalista, professora, sindicalista e ativista cultural, [que] foi figura muito relevante de uma geração politicamente empenhada, antes e depois do 25 de Abril”.

“Autora de um importante estudo sobre a cultura em Portugal (‘Títulos, Ações, Obrigações’, 1993), escreveu romances que fazem o balanço desencantado, mas não desistente, da militância e da educação sentimental. Colaborou, entre outros, com o Teatro da Cornucópia, nomeadamente com uma poderosa colagem de textos de Raul Brandão, ‘Primavera Negra’”, acrescentou a Presidência da República.

Nascida em Lisboa, em 1946, filha do escritor e pintor Mário Dionísio e da professora Maria Letícia Silva, Eduarda Dionísio era licenciada em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa, como recorda a biografia publicada pelo Esquerda.net.

“Foi professora do ensino secundário e, além de ficcionista, destacou-se pelo seu intenso envolvimento social e político, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980. Participou em exposições coletivas de artes plásticas, escreveu algumas antologias de textos literários portugueses e participou ativamente na área do teatro, tendo chegado, inclusive, a representar na Cornucópia e no Bando”, pode ler-se na biografia publicada pela Infopédia.

Eduarda Dionísio dirigia a Casa da Achada, em Lisboa, onde se encontra o espólio de seu pai.

A estreia literária aconteceu em 1972 com “Comente o Seguinte Texto”, “revelando desde logo uma arte narrativa peculiar, evocando um ambiente onde alunos prestam provas, comentando um texto sob a vigilância do professor”, descreve a Infopédia sobre a autora que assinou, com Antonino Solmer, a peça “Dou-Che-Lo Vivo, Dou-Che-Lo Morto”.

Citado pelo Esquerda.net, o professor universitário e cofundador do Bloco de Esquerda Francisco Louçã referiu-se a Eduarda Dionísio como “um monumento de capacidade de trabalho, meticulosa ao pormenor, culta como pouca gente, curiosa como ninguém, operária da memória”.

“Amava a cultura e queria-lhe a marca de uma paixão revolucionária e intransigente na sua contraposição à rotina e à modorra. Queria fazer e fez", acrescentou.