O escritor que diz lidar “mal com a exposição” pública, protagonizou hoje uma conversa bem-humorada com o público do Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos, sobre o percurso que o levou a deixar de ler, na adolescência, e a redescobrir a leitura quando esteve “empregado numa livraria em Londres”.
Aí descobriu autores portugueses como José Saramago e Fernando Pessoa, e hoje, no Folio, como disse com ironia, descobriu que precisa de "mudar de estilo”, seguindo o exemplo de do Nobel Português. Mas rapidamente descansou os leitores, de que continuará a escrever obras desde “a poesia, à fição”, numa mescla de fragmentos que depois edita, num processo em que quer levar consigo o leitor e “transportá-lo, nessa experiência, a um outro nível”.
O autor que disse nunca ter sonhado ser escritor, defendeu hoje que um romancista não tem de “abordar questões políticas do seu tempo”, mas que, num mundo em que em muitos países “os jornalistas são silenciados”, usa outras plataformas e artigos de opinião para escrever sobre realidades como as do Sudão e de Gaza.
Aos leitores do Folio falou hoje sobre obras como “O Luto é a Coisa com Penas”, o seu primeiro livro, que na noite de quinta-feira tinha já sido mote para uma conversa com o brasileiro Tiago Ferro, autor de “O Pai da Menina Morta”.
Marx Porter admitiu que esta obra ficcional “foi uma forma de expressar sentimentos” pela morte da mãe, tendo recorrido ao sarcasmo e ao humor, para descrever momentos como funerais, onde muitas vezes “se leem poemas e se elogia o morto”, mesmo que este não o mereça.
No encontro com os leitores abordou ainda a temática de “Shy”, a sua segunda obra, sobre a adolescência conturbada de um jovem que no final do livro tenta suicidar-se, história pela qual se confessou ainda “apaixonado”.
Tanto mais, que, rematou: “Todos os meus livros são cartas de amor”, ainda que escritos “sob o chapéu da inquietação”, marcados sempre “pelo grão de areia na engrenagem” que gosta de explorar.
O Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos, decorre na vila de Óbidos, no distrito de Leiria até domingo, com mais de 600 iniciativas, distribuídas por várias curadorias, e com a presença de vários escritores e ilustradores internacionais premiados.
O festival é organizado pela Câmara, a Empresa Municipal Óbidos Criativa, a Fundação Inatel e a Ler Devagar.
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