"Se a pergunta é: há outra Callas? A resposta é: não", garante Tom Volf, realizador do filme "Maria by Callas", autor de vários livros sobre a cantora e comissário da mostra que começa esta semana nos arredores da capital francesa.
"Costuma dizer-se que para cantar 'La Traviata' são necessárias três vozes em uma única soprano, mas Callas são mil vozes numa só voz!", diz Stéphane Grant, produtor de uma série de emissões na França sobre a artista.
Nascida a 2 de dezembro de 1923 em Nova Iorque como Sophia Cecilia Anna Maria Kalogeropoulou, de pais gregos, Callas estreou-se em Atenas em 1939/1940 com "papéis muito duros, como Cavalleria rusticana, Tosca, que requerem muita voz, projeção e força", lembra Grant.
"Canta em Itália óperas de Wagner e ao mesmo tempo em Florença 'Os Puritanos' de Bellini, que é a antítese de Wagner e requer uma voz elegíaca, à qual ela dá a sua força. Depois dela, ninguém fez nada igual! Nesse momento começou a revolução Callas".
"Mudou a forma como se interpreta ópera", lembra a soprano australiana Jessica Pratt, que na terça-feira canta num teatro de Paris um dos papéis míticos de María Callas, Lucia di Lammermoor.
"Para mim, como para muitas jovens cantores de hoje, continua a ser uma fonte de inspiração formidável", diz a artista sobre a cantora que morreu a 16 de setembro de 1977.
Um dos seus principais legados foi ter revalorizado o "bel canto" italiano (Bellini, Donizetti, Rossini), aliando virtuosismo e força de expressão.
"Fez com que se voltasse a escutar uma parte do repertório que não se ouvia há um século - salvo algumas exceções -, porque havia caído no esquecimento ou porque os intérpretes eram coloraturas, sopranos com vozes leves, doces, nos agudos, que não tinham a força dramática necessária para esses papéis", diz Grant.
Trágica
"Callas tinha precisamente isso, além da característica trágica no cenário, que dava até aos seus papéis mais estúpidos. Refiro-me a 'A sonâmbula' de Bellini, sublime no plano musical mas bastante boba como história. Ela transformou-a numa ópera extraordinária".
Também adotou um papel de tragédia na sua vida. Separou-se do seu esposo Giovanni Battista Meneghini, com a esperança de se casar com o seu grande amor, o magnata grego Aristote Onassis, mas ele preferiu Jackie Kennedy.
A exposição "Maria by Callas", em La Seine Musical - novo templo da música nos arredores de Paris- apresentará vários filmes inéditos, tanto sobre a sua vida (como um filmado no barco de Onassis por Grace Kelly) como sobre a sua música.
Tom Volf entrevistou pessoas próximas à soprano, como o seu mordomo e a sua empregada, e reuniu arquivos sem precedentes, montando uma exposição que inclui duas horas de música e mostra o salão e o camarim de "La Divina".
No 40º aniversário de morte, a Warner Classics reedita também um estojo com 42 CDs de gravações ao vivo.
"Quando mergulhamos nos ao vivo é fenomenal", conta Grant. "De repente, Callas entoa uma nota por cima coro, é magnífico!"
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