O disco contou ainda com a produção e "aconselhamento" do músico José Mário Branco, que morreu em novembro de 2019.

Um dos temas do alinhamento, "Outono", é, segundo Marco Oliveira, "uma lição de como José Mário Branco inspirava" os intérpretes com quem trabalhava.

Nesta faixa, a 11.ª do alinhamento, o músico e produtor procura explicar a metáfora que o poema encerra, "a pequenês do ser humano" que "quando nasce sabe que vai morrer".

"Não conseguimos aceitar a morte como fazendo parte de um ciclo da vida, e quanto mais envelheço, mais penso nisso", afirma José Mário Branco.

O comentário de José Mário Branco refere-se ao poema "O Bailado das Folhas", de Henrique Rêgo, que Marco Oliveira gravou com música de autor de “Inquietação”.

"Uma das coisas que o José Mário referiu foi: ‘quando nós formos para estúdio, não vais estar sozinho comigo. Tu vais convocar as pessoas que ouviste a tua vida toda, vais convocar o Marceneiro, o Armandinho, os poetas, os compositores. Vais chamar todos os mestres'", contou à Lusa Marco Oliveira.

Segundo Marco Oliveira, o disco "reflete 24 horas na cidade de Lisboa", onde nasceu em 1988, onde vive, trabalha e é a cidade que o inspira.

"Este trabalho é fruto da vivência de alguém na cidade que ama, neste caso, Lisboa; alguém que vai vivendo os dias e escrevendo sobre aquilo que observa. Coisas que foram intensamente vividas, perfeitamente quotidianas, banais e que estão presentes em todos os poemas", disse, acrescentando: "O disco revela não apenas o amor pela cidade, mas também a nossa incapacidade de aceitar a impermanência e a crueza da cidade".

Dos 12 temas do alinhamento do álbum, seis têm autoria, música ou letra, de Marco Oliveira.

Para o fadista, este é "um álbum muito equilibrado, com seis fados tradicionais e seis ‘fados-canção' [com estribilho]".

Entre os tracionais, Marco Rodrigues gravou o Fado Margaridas, de Miguel Ramos, Fado Alexandrino do Estoril, de Armandinho, o Fado Menor do Porto, de José J. Cavalheiro Jr., e ainda de sua autoria, o Fado Alexandrino de Sesimbra.

Entre os fados com estribilho, Marco Oliveira gravou "História sem fim", de uma dupla de sucesso da década de 1960, Eduardo Damas e Manuel Paião, uma criação de Tristão da Silva.

Outro tema que recria é "Rosa da Noite", de José Carlos Ary dos Santos e Joaquim Luís Gomes, do repertório de Carlos do Carmo.

Neste álbum, Marco Oliveira acompanha-se à guitarra clássica, contando ainda com a participação dos músicos Ricardo Parreira, na guitarra portuguesa, e Carlos Barretto, no contrabaixo.

"Foi um disco feito com amor. Diria mesmo, paixão. Nesse sentido, para mim não é apenas um disco" sublinhou o fadista, adiantando à Lusa que está a "preparar uma exposição com as fotografias tiradas em novembro de 2019 no estúdio Valentim de Carvalho e que não foram ainda publicadas", relacionadas com este trabalho.