A canadiana Julie Doucet foi distinguida com o Grande Prémio do Festival de Banda Desenhada (BD) de Angoulême, em França, o mais prestigiado galardão internacional no setor, anunciou a organização na quarta-feira à noite.

Natural do Quebeque, a autora de BD, com 56 anos, torna-se a quarta mulher a inscrever o seu nome neste palmarés, recompensada pelo conjunto da obra, essencialmente composta por fanzines em que dá livre curso a uma estética punk e uma "imaginação desenfreada".

É também a primeira autora de nacionalidade canadiana a conquistar o prémio, que tem sido atribuído maioritariamente a desenhadores europeus, muitos deles franceses ou belgas.

Julie Doucet é sobretudo conhecida pelos fanzines que assina há três décadas, intituladas "Dirty Plotte", num estilo descrito como expressionista, ou mesmo ´trash´, recentemente reunidos num só volume em edições em inglês, espanhol e francês.

"Tenho dificuldade em acreditar [que ganhei o prémio]. Na verdade, estou muito nervosa", disse, na cerimónia do palmarés, que decorreu no Teatro Nacional de Angoulême.

A autora recordou que "tudo começou de quase nada, um pequeno fanzine criado nos anos 1980, com um título não muito claro".

"E agora estou aqui, em Angoulême, a receber o prémio mais importante da indústria da banda desenhada", acrescentou a criadora, que tem feito muito poucas aparições públicas.

Um comunicado da organização descreve a autora premiada nesta 49.ª edição do festival como alguém que "desenha sem concessões, de forma radical e subversiva", e foi "uma das pioneiras na banda desenhada autobiográfica, contando o seu quotidiano cheio de sonhos e pesadelos".

"Construiu uma obra iminentemente pessoal e livre, sem seguir convenções: uma obra radicalmente feminista que aborda temas raramente evocados de forma tão direta, com o corpo, as regras, os fantasmas sexuais e as questões de género", acrescenta a organização.

O festival abriu na quarta-feira à noite com um "concerto de desenhos" em homenagem ao povo ucraniano, que enfrenta a invasão do exército russo desde fevereiro.

O autor e desenhador norte-americano Chris Ware venceu o Grande Prémio do Festival de BD de Angoulême na edição de 2021.

Em anos anteriores, o prémio foi atribuído a nomes como Emmanuel Guibert, Franquin, Zep, Art Spiegelman, Bill Watterson e Richard Corben.